segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

RITALINA E

 CRIANÇAS IMOBILIZADAS COM MEDICAMENTOS

uma das questões fundamentais em saúde se chama uso correto de medicamentos. E nada contra os remédios, embora eles em si tragam essa noção de paliativo, de alívio, de remediar. Verbo dele, remédio, derivado. A cada dia, a cada quinquênio, nos tornamos uma sociedade medicalizada, termo técnico. Diferente de medicaçao se prescrita por médico. Tornamos tão medicalizados e usuários de drogas (lícitas) que se vamos a uma consulta médica, mais importante do que a entrevista com o profissional, temos que sair com uma prescrição. Ênfase deveria se dar a terapias não farmacêuticas.

Esta realidade é tão presente que prescrição de medicamentos, drogas de toda natureza e para tudo, sao prescritas por qualquer pessoa. Diversos outros profissionais receitam os medicamentos propagados. Propagandas, em 1º  lugar dos laboratórios como os primeiros interessados, depois há as indicações de parentes, dos pais, dos amigos, do vizinho, dos órgãos de comunicação: televisão, rádio, Internet, redes sociais. Até as academias receitam drogas e suplementos.

E os profissionais não médicos e não habilitados a receitar? Um sem-número deles. Os mais receitadores: psicólogos, treinadores físicos, fisioterapeutas físicos ou holísticos, os terapeutas emocionais, conjugais, os religiosos, os curandeiros, os charlatões, os raizeiros etc, etc. As pessoas comuns, já usuárias e adictas de remédios, repassam aos amigos, vizinhos e dependentes.

Existem algumas epidemias, assim podem ser nominadas, epidemias do uso de medicamentos. A primeira delas se chama automedicação; trata-se de uma cultura da humanidade. Quanto mais atrasado um país, uma sociedade, mais se dão o direito as pessoas de automedicar. Muitos se medicam e medicam outras pessoas do convívio, com claros riscos de intoxicação e efeitos colaterais. Os medicamentos mais em voga na automedicação são os analgésicos, os antibióticos, os soníferos, os digestivos, os antinflamatórios e os estimulantes sexuais. Compram-se até pela Internet.

A segunda nociva epidemia da sociedade medicalizada está no uso dos chamados psicotrópicos e psicoativos. Nunca se usou tantos remédios para depressão, ansiedade, transtorno de humor, tristeza, fadiga e insônias, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) como nas últimas décadas. A OMS já alertou para a preocupante epidemia do excessivo índice de diagnóstico e medicamentos para depressão e respectivo indiscriminado emprego de antidepressivos.

Algumas questões nesse cenário, valem a citação. A primeira grande interessada no expediente e recurso do remédio para tudo é a indústria farmacêutica. As pesquisas científicas nesse objetivo são tendenciosas e com viés de interesse para os laboratórios. Nunca se fez tanto diagnóstico de doenças mentais, psicopatias e doenças do humor como nas últimas décadas. Há remédios para tudo; de gagueira até os desadaptados sociais. São várias drogas com essas indicações, acreditem, de nomes sugestivos.

Existe um manual da Sociedade de Psiquiatria Americana, de nome DMS-V, na sua 5ª  edição. Foi iniciado em 1952. Eram cerca de 100 doenças cifradas - CID 10, hoje são 300. A cada década vão criando novos diagnósticos. Olhem estes: transtorno disruptivo do humor, transtorno cognitivo leve, transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno de compulsão alimentar (os comilões); entre outras pérolas da terminologia criada com estímulo das pesquisas científicas patrocinadas pelos laboratórios. Porque há a solução, há remédios para tudo. Não curam, mas existem. Exemplos: para deixar de fumar ou perda de peso.

Para conclusão ilustrativa do estágio ou era da sociedade global medicalizada. O tal TDAH. Não existe diagnóstico mais forjado e superestimado do que este. Basta uma detida e criteriosa análise do desenvolvimento e energia, normais de qualquer criança. Elas, pela fisiologia e efervescência da idade, correm, brincam, falam muito, são curiosas, perguntam, mexem e remexem em tudo. Fica a sensação de que são proibidas de serem crianças. Para esse comodismo de pais, de educadores, de babás, de tutores, criaram os medicamentos para essa natureza dinâmica, elétrica dos pequenos.

Além dos objetos digitais, dos tablets, das telinhas dos celulares, dos games, criaram o metilfenidato, a Ritalina, marca comercial; simpático nome para os discutíveis diagnósticos de TDAH. Atençao para pais, os pedagogos, os tutores e babás. Eles  vêm perdendo a habilidade de lidar com a energia e curiosidade (natural, construtiva) das crianças. Então, telinhas dos celulares, joguinhos imbecis, desenhos multicores; e medicação, ritalina neles. A indústria do consumo mostra a solução para tudo.

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