A RELIGIÃO TAMBÉM ALIVIA E CURA NOSSAS DORES
João Joaquim
A ciência, como aceitação consensual, se demonstra com matemática,
com lógica, com dados concretos, com experimentos, com ensaios, com física, com
a química. Enfim com provas universais bem incontestáveis. A medicina é um
campo profissional que se vale dos muitos braços científicos. Ela se vale por
exemplo da biologia, da química, da física, etc. Todavia, ela não é estanque,
nem está vedada à influência de outras áreas do conhecimento e abstração
humana, à sociologia, à filosofia e religiosidade.
Todos esses segmentos da
sabedoria, do pensamento e da prática humana, podem e devem fazer parte da
estratégia e das diretrizes terapêuticas e enfrentamento das doenças;
tudo a serviço do bem estar, da saúde e da vida humana.
No reforço e defesa dessas premissas basta lembrar que muitas
afecções de origem puramente orgânica terão um componente emocional adicional.
Inversamente, muitos transtornos psíquicos na origem (ansiedade, depressão)
terão graves repercussões somáticas e físicas ( doença psicossomática).
Trata-se do princípio basilar do que seja doença psicossomática. É a emoção ou
a alma como porta para muitas das dores e do sofrimento do corpo
, do soma, de nossa fisiologia e economia orgânica.
Uma questão que muitos veem com ceticismo e incredulidade em medicina
refere-se ao papel da religião ou religiosidade. O papel da terapia espiritual.
Em minha já longa trajetória de médico, já participei de muitos congressos,
conferências e simpósios. Nas poucas vezes em que se abordou o papel da fé e da
religiosidade do paciente em tratamento tal matéria foi vista com um certo
desdém e desprezo .
Tal constatação se mostrou presente não apenas nos ouvintes, mas até
mesmo com superficialidade e sem convicção ou entusiasmo dos que conduziram os
experimentos ( os pesquisadores condutores do estudo).
Independentemente da crença, religião, fé ou mesmo do ateísmo da
pessoa, o que importa é que somos constituídos de uma dualidade corpo e alma ou
corpo e mente. E mente aqui deve ser lida também como a nossa psique, as nossas
emoções, nossa capacidade dos mais complexos e variados sentimentos (amor,
amizade, afeto, fraternidade, ódio, antipatia, inimizade, egoísmo e vingança).
Diferente dos irracionais temos racionalidade e memória. Temos a capacidade de
ver, ouvir, presenciar fatos e ações e guardar tudo em nossa consciência e na
memória. Esse tão nobre atributo dos homens por um lado, muito ruim por
outro porque pode voltar contra o próprio portador, trazendo-lhe
recalques, sentimento de culpa, de raiva, medo , dor e sofrimento de toda
ordem.
Como referido na introdução Ciência se fundamenta em dados lógicos,
concretos e matemáticos. Religião se baseia em intuição e fé . O que há
de consensual é que o organismo humano tem de fato um componente físico
(mensurável, palpável) e uma esfera imaterial, intangível, composta do psiquismo,
de uma consciência, emoções, a que se pode também nominar de alma. Essa
aceitação independe de religião, de fé , de filosofia contrária a essas concepções.
Há filósofos ateus e aqueles em profunda conexão com o sagrado, com Deus.
O certo é que o homem (gênero) é o seu corpo (soma) aliado a todos os
seus sentimentos, crenças, fé e suas concepções de mundo, de Deus e de todas as
coisas que o cercam. Partindo então desses postulados, como imaginar então a
pessoa desconectada de todos esses componentes? Quase impossível .
Imaginando as partes interligadas tem-se então que se uma pessoa
adoece, todo o resto será acometido na proporção de sua susceptibilidade e
de sua resistência. Diante das doenças, todos, rigorosamente todos, nos
tornamos criaturas frágeis, vulneráveis ; e nessa hora precisamos do cuidado de
outrem, das energias emanadas em nosso favor, venham de onde vier.
E a fé inclusive, pode ser essa última energia a nos revigorar e superar
o inimigo psíquico ou orgânico( a depressão e a dor física , por exemplo), a
doença que teima em romper esse tênue fio que nos segura, a vida.
Para o bem daqueles comtemplados com tais experiências e iniciativas vêm
surgindo grupos de estudos e especialidades médicas dedicadas ao emprego de
práticas e atitudes religiosas na cura das pessoas. São condutas estimuladas
sem nenhuma discriminação de religião. O que importa aqui é religiosidade.
A fé ou firme convicção de que há um ser maior, um criador acima de toda
inteligência e engenho humano. O papel da religião aqui, pode ser praticado
inclusive por pessoas leigas, por um pastor, um evangelista que atuará com suas
orações, suas intercessões. Esse expediente e prática serão adicionais e
aliados a toda terapia convencional médica ou psicológica seguida
pelo paciente.
Abstraindo-se da questão e vocações de fé e religiosidade. De há muito
que se conhecem os nexos causais entre transtornos psicológicos e danos
físicos. Conceito de doença psicossomática. Muitas são as doenças que na origem
tem um transtorno emocional. Como exemplos, a obesidade, a síndrome metabólica,
as gastrites, a síndrome do intestino irritável, a asma, as doenças de pele, a
enxaqueca, a fibromialgia, a psoríase, os reumatismos.
Pra ficar em exemplos bem concretos: o indivíduo mal resolvido
espiritual ou emocionalmente terá descargas intermitentes de adrenalina,
insulina e corticosteroides (suprarrenal). Com tudo alterado o paciente
terá resultados negativos : ganho de peso, insônia, mais depressão,
diabetes, mais colesterol, mais pressão alta; assim , mais riscos de morte
cardiovascular.
Enfim, e num conceito mais estendido, saúde é um completo
bem-estar físico, social, econômico, ambiental, afetivo, psíquico e religioso.
Numa frase para os médicos, para os terapeutas e pacientes “tudo vale a
pena quando a alma não é pequena” (Fernando Pessoa)
março/2018