sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Pilulas da felicidade

AS PÍLULAS DA FELICIDADE

João Joaquim  



Feliz aniversário! Feliz Ano Novo! Felicidades! Estas são expressões muito repetidas em nossa sociedade. Elas sufragam um bem supremo que buscamos a vida inteira, para nós mesmos e para quem queremos o bem, o bom viver, a virtude; enfim a felicidade. Para os pessimistas trata-se de um desejo utópico, impossível de ser alcançado. E de fato quando avaliamos esse bem supremo sob a ótica do mundo atual torna-se uma conquista restrita a poucas pessoas. Isto porque vivemos uma sociedade dominada por uma cartilha e diretriz do capitalismo e  do consumismo a todo custo.
Para a imensa maioria das pessoas tal estado de realização (ser feliz) estaria sustentado em bens materiais como belos carros, bela casa ou apartamento, viagens pelos lugares mais belos do planeta, roupas de grife, os equipamentos digitais de última moda, satisfação plena no sexo ,  na mesa, etc.
Enfim, o objetivo de todos seria uma doce vida de nada fazer, custe o que custar. Como  resistir  também aos apelos, marketing e engodos dos mercados financeiros e de crédito? Tal comportamento é uma contínua busca para a maioria das pessoas. E isto gera o que ? Ansiedade, angústia, depressão e desilusão , porque nem tudo está ao alcance de todos . Mais dívidas, negativação em órgãos de restrição de crédito como Serasa, inscrição na dívida ativa, etc.
De  outro lado, para uma parcela menor; para aquelas pessoas mais espiritualizadas, a convivência com tantos problemas do cotidiano, os sofrimentos físicos e morais, a fome, a violência dos conflitos e guerras, a pobreza, o drama dos refugiados, o pavor provocado por terrorismo, a violência urbana, o crime organizado em conluio com agentes de Estado,  etc;  toda essa consciência nas pessoas generosas e de bem já traz um sentimento de pesar e mal estar, de infelicidade
Como então ser feliz, mesmo sem exigência de muito conforto material, ante tantos infortúnios que nos rondam, que são noticiados diuturnamente pelas redes sociais e pela televisão?
Ainda sobre a felicidade fundada no materialismo. Tem sido uma constante em nossa sociedade, uma sofreguidão e competição em busca das comidas propagadas e alardeadas como as melhores, como fonte de alegria, prazer e gozo. Esta tem sido uma das marcas dessa sociedade moderna, comer de forma orgástica e orgíaca; proceder às libações alcoólicas até ao estupor da razão e da critica.
Outra marca desses esquisitos tempos tem sido um sem-número dos transtornos psíquicos e nas relações humanas. Pais versus filhos, filhos versus educadores, esgarçamentos das relações conjugais, crimes passionais, feminicídios, assédios de toda ordem, moral e sexual, corrupção em todos os níveis ,  etc.
Como consequências veem-se nos consultórios de psicólogos e psiquiatras muitos frequentadores: os doentes de estresse, de depressão, de transtornos de ansiedade, fobias e ideação suicida.
A insatisfação com o modelo de corpo perfeito, a busca por tratamento estético, o tratamento das rugas e flacidez com botox, as cirurgias plásticas, as dietas restritivas e academias de ginásticas. Todos, são expedientes propostos por essa sociedade de consumo. O fracasso e ineficácia dessas metas resultam em mais ansiedade, sensação de fragilidade, mais angústia e infelicidade. Onde encontrar então a bem-aventurança, a felicidade?
Para tanto não faltam outras propostas. Assim o fez a indústria farmacêutica, com a criação das chamadas drogas lícitas, os psicofármacos. São medicamentos com a finalidade de promover a felicidade. São várias as pílulas da felicidade. Temos os ansiolíticos.
Vejam que sugestivo adjetivo criaram  os mercadores de remédios. Ansiolítico, seria a lysis, destruição, dissolução da ansiedade. E são muitos os fármacos vendidos com esse propósito: fluoxetina, citalopram,  clonazepan e tantas outras substâncias para mitigar, amainar o sofrimento da alma e do corpo.
E para os que sofrem com as frustrações e insônias, há também os soníferos ou soporíferos. Tomou, o indivíduo entra num estado de anestesia mental, estupor e sono mais profundo e prolongado. São ou não pílulas da felicidade, nesses tempos de tanta desilusão, de tanta devassidão, de completo apodrecimento dos valores morais e sociais, da política e da economia?
E mais um detalhe dessas chamadas pílulas da felicidade, elas viciam. Ou seja, os laboratórios ou  a indústria farmacêutica, também criaram essa marca dos medicamentos, receitados e comprados no mundo inteiro, por essa sociedade em franca derrocada e decadência. Lembra-me a antigo Império Romano.
Muitos foram os filósofos que abordaram o tema felicidade. Dos  apelos de felicidade impostos  pelas mídias, inclusos as drogas psicoativas.  Nietzsche Chamou esse expediente  de felicidade de rebanho. É um comportamento de mimetização, de imitação do que é divulgado como o padrão de consumo pelo sistema em que vivemos. O que vale é o pertencimento ao sistema.
Aldous Huxley escreveu um livro de título curioso-“ Admirável mundo novo”. Isto graças ao uso da soma, uma espécie de droga da felicidade abordada pela magnifica obra desse autor, onde as pessoas permanecem sempre jovens e felizes. Seria como um antídoto da tristeza e do sofrimento. Essa droga, a soma, hoje existe às dezenas no mercado dos psicotrópicos.
Aristóteles foi outro grande pensador que discorreu sobre a felicidade. Ele referiu que muitas vezes na busca da felicidade, tendo em conta bens materiais se foge dos atributos e valores da própria pessoa como a honra, a moral e a razão. De acordo com a ética aristotélica, conhecida por eudaimonia  (felicidade) os atos humanos tendem para o bem. E o bem supremo é a felicidade.
Esta é a bem-aventurança  que deve ser realizada e buscada  como excelência, o melhor de nós, que é a nossa natureza racional. É possível ser feliz com essa essência exclusiva e inerente  ao gênero humano. Basta cultivar esses valores imateriais e imanentes à pessoa humana, em que pese a certeza de que o mundo atual, com todos os seus engodos e sistemas de alienação, insistir em não deixar.  Como recomendou a menina Anne Frank , apesar de tudo, a gente deve acreditar na bondade humana. E eu acredito. Dezembro/2017

Alzheimer

PREVENÇÃO  DO MAL DE ALZHEIMER

João Joaquim  


Com o aumento da longevidade sobrevêm na mesma proporção os casos de demências: entre essas a  de maior limitação e danos cognitivos o mal ou doença de Alzheimer. Com muita repetição tenho ouvido de pessoas próximas os relatos de que o pai, o avô, o tio, o engenheiro, o advogado, o dentista, o médico tal, que tinham plena higidez física e mental se viram de hora para outra com a demência de Alzheimer.
Como de muitos sabido as demências refletem um processo natural do envelhecimento. O cérebro entra neste pacote da senescência. A demência de Alzheimer em particular leva o nome de seu 1º descritor e estudioso, o psiquiatra alemão Alois Alzheimer (1864-1915). O caso mais emblemático descrito por esse pesquisador foi em 1906. Referia-se a uma paciente de 51 anos que progressivamente foi perdendo a memória para suas atividades triviais e outras funções  de orientação e cognição.
Os achados necroscópicos e histológicos dessa mulher mostraram depósitos das proteínas beta-amiloide e tau nos neurônios, em especial naquelas áreas cerebrais ligadas à memoria. Passados mais de 100 anos, pouco foi acrescentado aos trabalhos desse genial médico, que merecidamente deu seu próprio nome a essa doença.
Instigado por tanto relato de pessoas próximas com parentes idosos, doentes e falecidos com Alzheimer, decidi por fazer uma metanálise (pesquisa) de artigos sobre a matéria. Porque na verdadeira concepção da ciência   muitas afirmações podem se tornar no futuro puras abobrinhas e confabulações, sobre essa ou aquela doença. Uma verdade hoje, pode ser mentira amanhã .
Dois expedientes ou atitudes são defendidos pelos especialistas com os quais eu penso em uníssono. O primeiro deles se refere ao chamado estilo de vida saudável. Trata-se da mesma estratégia na prevenção das doenças cardiovasculares. Compõe-se de atividade física contínua, abstenção dos vícios de nicotina, álcool e drogas ilícitas, alimentação balanceada e sono de boa qualidade (reparador). O segundo expediente importante refere-se a todas as ações e hábitos para exercitar a memória de forma contínua. E aqui, que fique bem explícito e grifado: exercício da memória de forma contínua.
Nenhum dos trabalhos e artigos lidos fala que estilo de vida saudável ou intensa atividade intelectual,  interrompida depois de 20 ou 30 anos, vá proteger o seu praticante pelo resto da vida, na 3ª  ou 4ª  idade( velhice).
E por que tanta ênfase no caráter de continuidade dessas atitudes preventivas das demências ,seja a senil ou de Alzheimer? E afirmo porque tenho, de ouvida ou entreouvido, constatado o espanto ou surpresa dos aludidos parentes desses idosos(as) vítimas da doença. São essas as referências, são esses os espantos: Ah, mas como pode! Meu pai, minha mãe, meu tio(a); que trabalhou a vida inteira, que era engenheiro, que era professor, que era médico. Como? Ele, ou ela que fez pós graduação, mestrado, doutorado! As respostas a esses pasmos e estranhezas são simples e objetivas. Não importa que o indivíduo na sua vida mais produtiva tenha até se doutorado nessa ou naquela atividade profissional, tido uma intensa atividade intelectual e científica. Na verdade muitos desses veteranos mestres e doutores, aferrados ao trabalho e exímios no que faziam pararam no tempo em termos de exercícios da memória  e com estilo de vida insalubre. Muitos desses modelos aqui citados, estudaram, se tornaram experts no que trabalharamm, mas pararam no tempo como autômatos. Tudo que eles precisavam para bem trabalhar estavam no sistema automático do cérebro( trabalhavam como robôs ). Muitos desses(as) profissionais brilhantes, para agravo do risco de Alzheimer, se aposentam ainda não idosos, com 55 ou 60 anos. E para mais agravo, estacionaram em uma vida sedentária, sua atividade intelectual, de memória ou cerebral.  Muitos desses aposentados de suas atividades profissionais e ex doutores nisso ou naquilo, uma vez inativos, leem de menos, não aprendem nenhuma habilidade a mais, nada mais escrevem ou produzem mentalmente. Seriam ( tais pessoas) como que nunca tivessem tido uma ótima atividade produtiva intelectual. Porque houve descontinuidade.  
Conclusão: todo aquele esplendor  nas universidades, todos os estudos como mestres e doutores foram perdidos. Isto porque não tiveram continuidade. Na mesma analogia que se faz com atividade física para  o coração. Parou, em pouco tempo se tornam como  outros sedentários quaisquer.
Conselho final: quer prevenir de ficar gagá ou caduco (a)? aposente-se da obrigação de todo dia assinar o ponto no escritório ou emprego, mas continue lendo bons livros, treinando matemática, fazendo cruzadas, decifrando enigmas, aprendendo algum idioma, evite o sedentarismo mental e físico  e a depressão. Pronto. Esta a melhor receita  para se tornar um idoso independente, atraente e produtivo, sem demências, e sem Alzheimer.  Lembrete final, cuidado  com os falsos profetas da Saúde e da Medicina, não existe remédio para memória. O melhor medicamento para a memória, é o exercício da própria memoria.    Dez /2017

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Bullying

BULLYING MAIS DOENÇA MENTAL E ACESSO A ARMAS DE FOGO PODEM DAR EM TRAGÉDIAS INOMINÁVEIS
Joao Joaquim

O atentado com vítimas fatais e sobreviventes no Colégio Goyases, de Goiânia, é mais um daqueles epsódios trágicos que trará muitas discussões, opiniões, debates e propostas sobre diversas questões enfrentadas pelas famílias e sociedade. Como registro para futuras leituras: nessa escola de ensino fundamental, um garoto do 8º ano, 13 anos de idade, sofria chacotas, desdém e injúrias verbais; como  de todos sabido, um assédio  denominado bullying, até que no dia 20.10.17, essa vítima de "assédio moral" entra para uma aula normal portando uma arma de alto poder letal. Ele atira pontualmente no autor dos repetidos bullyings e em outros companheiros de classe, com 2 mortos imediatos e mais 4 feridos. São relatos testemunhais de colegas da escola. A direção do colégio,  por questão de justiça de informaçao, nega ter recebido essas informações de bullying sofrido pelo agressor.  
O que se tem de concreto até então, de informações concordantes, de amigos e imprensa, é que o autor do atentado sofria injúrias verbais e menosprezo de alguns colegas de classe. E mais, segundo informes de testemunhas do convívio, que o agressor verbalizara sinais e sintomas de provável distúrbio psiquico e/ou psiquiátrico. São hipóteses para futura elucidação diagnóstica.
Três são as questões que podem ser trazidas à baila para debates e propostas de minimização e/ou solução. 1-Bullying em escola e em outros espaços de convivência; 2-transtornos (doenças) mentais;  3-disponibilidade e/ou porte de arma de fogo.
O bullying( do inglês to bully, tiranizar, oprimir) tem sido recorrente nos espaços de convivência, sobretudo nos ambientes ecolares. É também muito praticado na internet e redes sociais (ciberbullying). No ambiente virtual são empregados os chamados memes, imagens nocivas e xingamentos. São agressões da mesma natureza do racismo, injúria étnica e preconceito contra as minorias;  como exemplo, pessoas dos grupos LGBTI e algumas religiões.
No ambiente escolar tal forma de assédio moral deve ser coibido pelo corpo docente das próprias escolas. Missão pedagógica que cabe a professores (as), coordenadores (as) e monitores. Tal expediente deve ser adotado com todo rigor através de reuniões, com a presença de vítimas e agressores, no sentido de pacíficação, orientação moral e ética aos envolvidos e proibição de qualquer expressão, gesto ou objeto injuriante. Outra exigência determinante é a comunicação de tais injúrias às famílias de vítima e agressor no propósito de cooperação e cessação de toda forma de agressão  física e verbal. O que fica claro e patente é que tanto professores e pais nunca podem subestimar e negligenciar ante os comportamentos e denúncias de bullying. Por isso dá-se ênfase no diálogo permanente de pais e professores com os alunos.
Uma outra realidade de uma prevalência significativa se chama doenças mentais. Elas têm um espectro  grande e variável e algumas de prognóstico grave e incurável. Como exemplos, os transtornos de ansiedade que atigem em torno de 20% das pessoas. A ideação suicida, também grave e crônica, mas tem tratamento e cura. As esquizofrenias, que acometem 1,2% das pessoa. Estas doenças(esquizofrenias)  não têm cura, exigem rigoroso tratamento com psicotrópicos e vigilância das famílias e/ou cuidadores (curadores). Nessa estatística, têm-se em Goiânia , cerca de 15000 pessoas acometidas dessa grave psicopatia. A cada 100 pessoas que se  encontra, tem-se ao menos um com a doença.
Uma questão extremamente milindrosa e grave é o preconceito e negação da família em relação aos sinais premonitórios (iniciais) indicativos das doenças mentais. Os pais ou responsáveis são os primeiros na demora e negativas em admitir e procurar ajuda diante de um filho com as primeiras manisfestações de qualquer transtorno psicológico ou paiquiátrico.
Trata-se de uma realidade tão grave que não tem sido incomum fazer-se o diagnóstico após um episódio de desatino ou tragédia como são os casos de tentativa ou comentimento de suicídio, de homicídio e crimes passionais. O estigma e segregação que as doenças mentais provocam levam a essa omissão e negação por parte de pais e familiares desses pacientes. 
A questão da participação das armas de fogo. Toma-se como exemplo os EEUU. Lá, em muitos estados, todos podem portar a arma que puder comprar, inclusive as de guerra como metralhadoras e fuzis. Já se têm estudos no próprio País que apontam: os estados com mais liberdade ao acesso a essas armas letais são os de maior número de homicídios, suicídios e atentados em massa (colégios, shoppings, shows).
No Brasil, o estatuto do desarmamento, criado em 2003, tem sido tanto infrutífero quanto estéril. Talvez pior ou mais nocivo do que antes porque desarma as pessoas honestas e responsáveis, mas, não se tem  os mesmos efeitos e resultados para os criminosos. Além do que há uma cultura no Brasil de muitas leis não surtir a eficácia esperada e a prática do jeitinho ilícito e desonesto de ser. A clandestinidade e a pirataria andam de mãos dadas nessas circunstâncias. As armas de fogo entram no país por todas as fronteiras. Que bem o atestam sobre essa triste realidade o crime organizado do Rio e São Paulo.
Assim ficam postas com as devidas propostas, essas três realidades:  bullying, transtornos mentais e armas de fogo. Cada uma tem sua dramaticidade peculiar e sujeita a tragédias. Imaginemos então a convivência ou coexistência de pessoas vítimas ou autoras de bullying,  de doenças mentais mais o acesso ou porte de arma de fogo. São associações mais do que danosas , irracionais e com alto poder de tragédias e de fatos e feitos que deixam famílias e sociedade  aturdidas e consternadas em só de ouvir e ver imagens dos horrendos crimes perpetrados por autores em crises de ódio e surtos psicóticos. 
Se uma dessas três condições já tem um alto potencial de conflitos, de destruição e molestação da pessoa atingida, imagine a conjugação de duas ou todas no mesmo ambiente de convivência. Por isso se alerta: - Bullying, transtorno psiquiátrico mais acesso a arma de fogo podem resultar em tragédias inomináveis. Cabe às famílias, educadores, sociedade e Estado uma profunda reflexão sobre tais questões e criar expedientes e diretrizes na prevenção desses eventos que amendrontam e ameaçam todos nos seus espaços de convivência, como são escolas, casas de entretenimento e participação coletiva.
João Joaquim de Oliveira – médico e cronista do DM – face/ joao joaquim de oliveira whatsApp (62) 98224-8810   

DOENÇAS na Cadeia

PRESOS DE PESO E SUAS DOENÇAS INCAPACITANTES DE FICAR NA CADEIA
João Joaquim  

Uma questão que me parece de menor relevância e tem passado ao longo das manchetes de jornais tem sido as doenças que acometem nossos presos “notáveis”. Todos os chamados suspeitos, condenados e os intitulados criminosos do colarinho branco. Não escapa nenhum! Assim que vai para a cadeia, o sujeito, através do seu advogado, apresenta um diagnóstico de alguma doença, alguma cirurgia ou procedimento que o impede de ficar encarcerado. Agora, muito curioso e hilário ficamos aqui ,eu  e os leitores,  e cada um no direito de perguntar a esses corruptos e larápios do dinheiro público. E quando foi para roubar e participar das quadrilhas ou mesmo, a sós, de crimes de toda ordem, o meliante não estava doente? Chega a ser cômico para não  dizer trágico, tal pretexto esfarrapado para escapar do xilindró.
A coisa ou estratégia deve funcionar assim. Tudo maquinado pelo advogado de defesa. Afinal, a arte de advogar vem dos ensinamentos dos sofistas. Argumentar, argumentar, convencer, convencer . Vamos lá que cola! , valeu nossa persuasão, valeu nossa arte de convencimento e de iludir a justiça. E tem juízes que caem nessa esparrela.
Apresentasse o réprobo, o precito e corrupto preso, queixas de sorumbatismo( sorumbático), certamente que convergiriam melhor os sintomas  com sua condição de recluso. Porque a perda de liberdade deixa a pessoa triste e macambúzia. A sensação é a mesma da nostalgia, aquela melancolia do exilado, privado que está de sua pátria, do afeto e amor de seus membros parentais.
Até então o preso mais notável que recorreu ao recurso de adoecer na cadeia foi o ex médico Roger Abdelmassih. Passados 2 anos e ele na cadeia, a defesa entrou com uma petição de cumprimento de pena em prisão domiciliar. Ele cumpria a pena na cadeia de Tremembé SP. E em idas e vindas, cadeia e casa, o supremo tribunal federal acatou a argumentação do advogado do condenado. Ela cumprirá sua pena no doce e reconfortante refúgio do lar. Só para refrescar nossa memória, o ex ilustre médico teve uma sentença de mais de 100 anos de prisão por crimes de estupros em suas ex pacientes numa clínica de fertilização. Ou seja, para ele os crimes compensaram. A justiça embarcou em seus diagnósticos pós prisão.
O ex presidente da câmara, ex deputado Eduardo Cunha tentou o mesmo expediente. Foi apresentado um diagnóstico de aneurisma cerebral. Nunca dos nuncas que a justiça poderia embarcar em tal justificativa. Como não aceitou tal petição. Então aquela pergunta inicial, nos tempos dos crimes, das falcatruas, dos atos de corrupção o sujeito estava em plena higidez. Uma vez preso, vem com tais doenças. Onde é que aneurisma cerebral torna o indivíduo e mala incapaz de ficar na cadeia? Nem de trabalhar. Só se for na Cochinchina .
O mesmo ocorreu estes dias com o acusado Carlos Nuzman, ex presidente do COB, em prisão temporária. A defesa do indiciou ingressou com recurso na justiça. Alegando que o cliente passou por uma cirurgia cardíaca e que precisa de cuidados domiciliares. Então as mesmas indagações. Para ter contas e barras de ouro na Suiça o corrupto não tinha nenhuma limitação física. Ele foi solto, cumpre prisão domiciliar. Parece que por vias legais.
Talvez limitação ética e de consciência e de brio. Essas justificativas seriam mais razoáveis .  De permeio faz-se necessário um comentário sobre a participação dos médicos que emitem atestados, relatórios, laudos e diagnósticos para suporte de referidas petições à justiça. O  que se tem de concreto é que um aneurisma cerebral, uma prótese vascular ou cardíaca, stents, infartos cicatrizados e marcapassos, nunca são impeditivos de cumprimento de pena na prisão. Até ao contrário, se o indivíduo está encarcerado, ele está mais de repouso, e menos risco terá de agravamento das citadas doenças. Faz bem a justiça em rejeitar tais estratégias e manipulações.
Quanto à participação dos médicos que assistem esses condenados. Eles (os médicos) deveriam ser ouvidos e inquiridos tanto pelos conselhos regionais de medicina, quanto pelo ministério público. Os casos de diagnósticos falsos, forjados e inverídicos existem. Por isso merecem serias e profundas investigações pelos órgãos de ética e de justiça.  novembro/2017.

DOPING

USAR MACONHA E COCAÍNA DEVERIA SER TAMBÉM DIREITO DOS ATLETAS

João Joaquim   

Todos aqueles afeiçoados e afeitos aos esportes  não mais estranham os recorrentes casos de doping entre os atletas. A origem do termo é controversa. A mais aceita é que vem de dop, um termo africano para designar uma bebida alucinógena empregada por tribos primitivas em seus rituais religiosos e encontros sociais. Com o tempo, da semântica ficou o sentido de qualquer substância empregada por atletas com a finalidade de aumentar o  desempenho físico. Os medicamentos mais empregados para tais fins são os anabolizantes, os analgésicos, os diuréticos, os broncodilatadores e corticoides. Há uma lista extensa que pode ser consultada na internet.
Um outro grupo de medicamentos vedados aos atletas é composto dos chamados psicofármacos ou substâncias psicoativas. São os também intitulados psicotrópicos, drogas estas “lícitas”, largamente prescritas por médicos e indiscriminadamente ingeridas (consumidas) pelas pessoas. A  aquisição se faz com as receitinhas azuis ou especiais de um médico bonzinho e amigo; ou nem disso precisa, porque se compra no mercado pirata das esquinas ou pela internet.
Um outro grupo de substâncias que constitui um verdadeiro cancro social é representado pelas drogas ilícitas, cujos principais exemplos são a cocaína, o crack e a maconha.
A relação das pessoas com as drogas ilícitas constitui um cenário de muitos debates, discussões, dissenso e conflitos. Pode-se partir de uma parcela da sociedade que acha por exemplo que o consumo recreativo ou dependente da maconha é um hábito normal e inócuo. Ideia chancelada, acreditem, pela nossa suprema corte de justiça. Essa que se intitula a guardiã das leis e da constituição.

Em geral esses adeptos da liberação da maconha  ou são os próprios usuários já adictos ou têm parentes em casa como dependentes. Ou, seja há uma nítida aquiescência em proteger um parente dependente ou a si próprio como viciado.

Todos os trabalhos científicos são concordantes em que o uso não médico ou terapêutico da maconha traz graves danos à saúde psíquica e orgânica de seus dependentes, muita vez com sequelas neuropsíquicas permanentes.
O uso médico do canabidiol( derivado da maconha) é restrito a algumas doenças neurológicas e epilépticas, sob estrita indicação médica.
Com relação às demais drogas proibidas, o que se tem de bom e positivo é que até os próprios viciados têm plena consciência e certeza de seus graves riscos à saúde. Hoje, além da cocaína e seus derivados têm-se no mercado as drogas sintéticas com efeitos psicodélicos, delirantes, alucinatórios e psicóticos, altamente nocivos a quem consome.
São drogas com um alto potencial de risco de alteração comportamental, passíveis de danos ao próprio usuário e às pessoas próximas desses drogaditos.
Como referido inicialmente, muitos são os casos em que no exame antidoping se detectam derivados de maconha e cocaína no organismo (urina) dos atletas. A  punição aos consumidores, nesses casos, se torna muito mais severa do que se fosse um diurético ou analgésico proibido no esporte como os medicamentos derivados da morfina (opioides).
O que se deduz desses casos de antidoping positivo para maconha e cocaína é que muitos atletas do futebol e outros esportes são de fatos usuários “recreativos” ou dependentes e de vez em quando  são flagrados nos sorteios para os referidos testes antidoping.
Uma outra questão ainda conflitante e passível de legislação especifica refere-se a exclusão do candidato a vaga de emprego nos exames médicos pré-admissionais. São os exemplos de função pública das polícias e atividades de segurança pública e mesmo outros cargos de governo.
Muitas das seleções de pessoal( recursos humanos) desses órgãos são tão rígidas que os exames para substâncias ilícitas são feitos no cabelo; com uma característica, esses exames detectam a substância no organismo (cabelo), passados até três meses do uso da droga.
Deixo aqui  um argumento a favor do candidato. Com essa quarentena, bom mesmo é que ele mantenha a abstinência para sempre e garanta o emprego, às vezes, tão almejado.
Assim é a relação do homem, da sociedade, de muitos órgãos gestores de esportes e de empresas com o chamado doping e com as drogas psicotrópicas legais e ilícitas.
Uma questão que chega ser intrigante e inexplicável é como o nosso judiciário vê o consumo de drogas no Brasil. Por exemplo, para o supremo tribunal federal, ser usuário de qualquer droga ilícita é normal, lícito e legal.  Inclusive  portar algumas gramas para consumo. Isto para qualquer cidadão comum.
Uma pergunta me causa comichão e curiosidade: se usar maconha ou cocaína é direito de todos, como o define o nosso colendo Supremo Tribunal Federal( STF) e para o  para o trabalhador-atleta?
Não seria também normal e de direito? É tempo de nossa justiça se posicionar a respeito. Provisoriamente uma jurisprudência ou súmula-vinculante resolveria esse impasse. Afinal, de acordo com o artigo V de nossa constituição , todos são iguais em direitos e deveres. Inclusive o direito  de portar e usar algum baseado. Atletas e jogadores são também cidadãos de mesmos direitos. Eles possuem as mesmas garantias trabalhistas de outras pessoas não atletas. Ou não ? – Com a palavra nossos juízes do STF.   Novembro/2017.  


João Joaquim - médico - articulista DM   facebook/ joão joaquim de oliveira  www.drjoaojoaquim.blogspot.com - WhatsApp (62)98224-8810

BIORRITMO- RELÓGIO BIOL...

NOSSO  RELÓGIO BIOLÓGICO  VALEU UM NOBEL DE MEDICINA

Joao Joaquim


Os vencedores do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2017 são os americanos Jeffrey Hall, Michael Rosbash e Michael Young, por suas descobertas sobre os mecanismos moleculares que controlam os chamados ritmos circadianos - uma espécie de relógio biológico interno que regula o metabolismo dos seres vivos. As descobertas feitas pelo trio explicam como as plantas, animais e humanos adaptam seus ritmos biológicos de maneira a sincronizá-los com a rotação da Terra.
O mérito dos vencedores começou em 1984, quando Hale e Posbash isolaram a proteína PER, codificada pelo gene período. Essa substância se acumula durante a noite e se degrada durante o dia, num ritmo de 24 horas (ritmo circadiano, vem de circan dien, cerca de um dia). Para chegar ao núcleo a proteína PER se liga a outra proteína de nome TIM, produzida pelo gene timeless (seu tempo), onde vão bloquear o gene período, inibindo mais produção da própria PER.
O relógio biológico está envolvido em diversos mecanismos fisiológicos dos seres vivos, incluindo os humanos e plantas. Vários genes são controlados por esse sistema. Os cientistas empregaram como modelos de estudo as moscas de fruta, por ter um curto período de vida.
A saúde, a qualidade de vida e bem estar das pessoas são afetados quando há um descompasso entre o ambiente externo e o nosso relógio biológico. Um bom exemplo é o fenômeno do “jet lag”, o mal estar causado nas grandes viagens, com vários fusos horários. Já há  estudos que mostram também o surgimento de várias doenças quando se combinam inversão do relógio biológico com um estilo de vida não saudável, com a aquisição dos chamados fatores de risco, a exemplo do sedentarismo, dos vícios, da obesidade e doenças como hipertensão arterial e diabetes.
Assim se explicam muitos de nossos fenômenos fisiológicos. Nossa hora de alimentar, de dormir, de acordar, de uma urgência fisiológica digestiva, intestinal, urinária. Até mesmo os momentos de um aconchego conjugal, de nosso amor e boas relações sociais. Quantas e quantas atividades nós fazemos de  dia ou de noite, porque se ajustam melhor ao nosso ritmo interno, ao nosso relógio natural.
Na era pós industrial o homem moderno teve que se submeter ao chamado tempo social, em detrimento do tempo da natureza ,regulado pela noite e dia, pelo sol e pela lua. O descompasso entre esse tempo biológico interno e o tempo social pode gerar sérios danos à saúde, inclusive o câncer, conforme o demonstram estudos pertinentes.
As primeiras evidencias dos ritmos circadianos vieram com o astrônomo francês Jean Jacques D’ortous de Mairan. Ele estudou as plantas do gênero mimosa ou dormideira, cujas folhas se fecham à noite e se abrem ao amanhecer. Mesmo quando isoladas no escuro por vários dias, elas continuam o mesmo ciclo, murcham durante o período noturno e abrem com o dia. Com isto fica demonstrado um controle genético interno como nos animais( biorritmo).
Outro cientista que também contribuiu para a compreensão do biorritmo foi o americano Seymor Benzer(1921-2007) . Ele estudou o gene período na mosca drosófila. Este cientista só não conseguiu desvendar os mecanismos intrínsecos , agora desvendados pelos cientistas agraciados com o Nobel de Medicina 2017.
Muito se tira e se conclui de bom e de útil da compreensão dos mecanismos de nosso relógio biológico (biorritmo, ritmo circadiano). A cronobiologia, ramo da biologia que estuda esses fenômenos poderá contribuir sobremaneira no estudo dos ciclos sono e vigília, na variabilidade desses ritmos entre as espécies e mesmo as diferenças individuais dos humanos.
Quantas não são as pessoas por exemplo que adormecem mais cedo e levantam mais cedo, ou vice-versa?  Quantos indivíduos produzem melhor em determinado período do dia?  São  os chamados matutinos, vespertinos e até noturnos!
Tal conscientização caberia então às empresas, aos órgãos de Estado, às politicas de Educação e cultura, e ao próprio  ministério da educação, no sentido de seguir mais o ritmo da natureza, com inicio e términos de aulas seguindo os ditames e regras gerais do organismo humano, da natureza. 
Dentro dessas diretrizes, abolir em definitivo o estéril, nocivo e imbecil horário de verão, que se provou sem nenhum utilidade para economia. E ainda que o fosse, continuaria uma imbecilidade por tantos danos e riscos que  traz à saúde e segurança das pessoas.
Ao que parece, pelas comunicações recentes,  o governo, finalmente, depois de três décadas dessa imposição, colocará um  final no malsinado e nocivo horário a partir de 2019. Tudo volta como dantes, seguindo os ditames e ciclos da natureza, do agora desvendado, em detalhes,  relógio biológico interno ou biorritmo. Ainda bem, antes tarde do que nunca. Viva a Ciência! Viva a Fisiologia ! Novembro/2017 

sábado, 30 de setembro de 2017

Medicina desumana

 A ROBOTIZAÇÃO E  DESUMANIZAÇÃO DA MEDICINA.
João Joaquim 

A diferença em qualificação tecnocientífica entre um médico que se forma hoje e aquele que se formou há 50 anos é enorme. E abaixo vem as razões. Há 50 anos não se dispunha da sofisticação de exames que temos atualmente. Nos idos de 1950 e 1960 o arsenal de exames imunobiológicos, hematológicos e de imagens era muito restrito.
Essa carência tecnológica de exames complementares em décadas passadas exigia do profissional de saúde uma formação mais aguçada como clínico; qualquer que fosse a sua especialidade. Especialidades médicas que aliás eram poucas. Na falta de muitos exames laboratoriais o médico se via na obrigação de ter um apurado raciocínio semiológico . Para tanto duas disciplinas na formação médica eram capitais: semiologia e fisiologia( fisiopatologia).
Uma semiologia padrão se inicia através de uma minuciosa anamnese (entrevista). É o  momento   em que deve-se dar liberdade à livre expressão do paciente. Oportunidade em que o médico escutará (escutatória) atentamente cada queixa, sentimento, sintoma e relato do doente. Trata-se de uma fase significativa da consulta médica na qual o profissional já inicia uma análise, um juízo, uma presunção diagnóstica da pessoa.
Terminada a anamnese vem a segunda etapa igualmente importante que é o exame físico. E neste expediente da consulta eu me detenho e exalto a sua importância. Ele representa um item lapidar na consulta de qualquer especialidade.  Com  um exame físico ético, isento e altamente técnico o médico tem a oportunidade de avaliar a natureza do quadro clínico, a intensidade da doença, o diagnóstico anatômico e até a causa (agente etiológico) da afecção motivadora da consulta.
Com os avanços e aprimoramento nas técnicas diagnósticas tem havido, na mesma proporção , um declínio na formação, na aptidão e na capacitação clínica do profissional. O que representa uma perda na formação ou vocação humanística do médico. O que é lamentável. Pelo que assistimos hoje, o estudante de medicina já inicia o curso visando uma especialidade.
O recém formado sai da faculdade certo de que terá ao seu dispor um cardápio enorme de exames. Muitas vezes esse egresso do curso de graduação pouco ou nada conhece dos métodos diagnósticos no mercado médico. O que representa uma distorção em sua formação. Como eu solicito uma tomografia sem contraste, se eu não tenho conhecimento dessa técnica diagnóstica? O que ela vai me revelar? Quais suas limitações, contraindicações e riscos de agravo à saúde? Parece uma insanidade profissional, indicar um exame sem o domínio de sua técnica, e o que pode acrescentar numa boa consulta.
Cada exame complementar se torna significativo e de boa relação custo/benefício, na medida em que haja uma boa correlação clínica na sua prescrição. Nesses tempos da digitalização em tudo, tenho visto um despreparo e imprudência generalizada no emprego de exames complementares. Há profissional de saúde que tem o desplante de frente a uma pessoa hígida, saudável em tudo; solicitar uma lista de 30 ou 40 exames de sangue, sem nenhum critério, sem nenhum dado clínico( sintomas) que os justifique. Charlatanismo puro. Imagine esse cenário, muito encontradiço: paciente jovem, sem nenhuma doença ou queixa submeter a dosagens de vitaminas , minerais, exames de tireóide, enzimas hepáticas, imunoensaios para vírus hiv, hepatites, sífilis , doenças inflamatórias; considerando que este cliente não tem nenhum dado semiológico ou epidemiológico , nenhum comportamento ou fator de risco para realizar esses exames. São situações frequentes nos laboratórios.
Sem mais delongas três conselhos eu deixo para os colegas de profissão, sobretudo aos noviços e iniciados.
Primeiro: humildade, consciência e aceitação de que ninguém, nenhum médico sabe tudo que deveria saber. Na dúvida peça ajuda a quem sabe mais. Médico não é magico e nem é Deus; alguns consideram infalíveis. Vaidade pura.
Segundo: clareza na comunicação ao doente e familiar, sobre a impressão diagnóstica na primeira consulta.
Terceiro: moderação e muito critério na solicitação de exames e na  prescrição de medicamentos e/ou  qualquer outra terapia.
O que temos visto hoje são médicos com precária formação clínica, conhecimento insuficiente em semiologia médica, pouca escuta e exame físico superficial do  paciente. Enfim, relação médico/paciente desumanizada e artificial. São profissionais que escutam pouco e mal põem a mão no doente. E para se chegar ao diagnóstico há uma exagerada e inapropriada solicitação de exames.
O expediente de muito exame se torna em uma Medicina fria, maniqueísta, robotizada e desumana, o que  empobrece a relação com o doente e encarece o tratamento. São efeitos colaterais na saúde e no orçamento. O que  desmerece ainda mais a profissão  praticada nos tempos das tecnologias de ponta e digital. Dessa forma são médicos que parecem despachantes de saúde, tal a falta de habilidade e pobreza no raciocínio clínico das queixas e achados alterados num exame físico bem feito.  Outubro  /2017.  

João Joaquim - médico - articulista DM   facebook/ joão joaquim de oliveira  www.drjoaojoaquim.blogspot.com - WhatsApp (62)98224-8810 

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

CRIMES DE JOVENS

OS CRIMES INFANTOJUVENIS VEM DA MÁ EDUCAÇÃO FAMILIAR E DAS DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS OMITIDAS PELAS FAMÍLIAS

João Joaquim 


Uma questão social e comportamental que tem preocupado as famílias e a sociedade tem sido o envolvimento de adolescentes e jovens na prática de crimes contra a vida. São ameaças, lesões corporais e a consumação de muitos desses delitos. Muito tem se discutido sobre tais questões. O que representa o bullying nesse contexto? Os jogos eletrônicos de violência;  o consumo de drogas ilícitas; O papel da chamada educação familiar; e as doenças psiquiátricas.
Na digressão desta temática e para facilitar nosso raciocínio, vamos dividir tão grave questão em dois módulos, a) as causas socioeducativas e b) as causas por distúrbios patológicos do comportamento /ou os transtornos  psiquiátricos.
No conceito  de educação não custa relembrar que o homem é fruto do meio social onde nasce e vive, onde é educado, enfim ,onde recebe as primeiras impressões sensoriais que o marcarão para sempre.
Em matéria tão importante ficam aqui as teses do empirismo de Francis Bacon( 1561-1626) John Locke(1631-1704) e David Hume(171-1776). Esses três grandes filósofos contrariam as teorias de Platão e de Renê Descartes para os quais o indivíduo já nasce com ideias inatas (teoria do inatismo).
Ora, torna-se de fácil entendimento, conforme explica John Locke, que a criança ao nascer tem o seu cérebro comparado a uma lousa em branco (tabula rasa). É bem perceptível que o aprendizado mais rudimentar e a linguagem são dominados de forma repetitiva e paulatina. E assim ocorre com toda percepção sensorial, com todo o comportamento social e aquisição dos conhecimentos que são dispensados e propostos a essa pessoa em formação, por isso criança (de criar, criantia).
Com fundamento nessas premissas da vida cotidiana de cada família, de cada pessoa, torna-se de fácil e simples aceitação que o indivíduo é fruto sobretudo de sua educação de berço, dos pais, dos cuidadores, de seus primeiros referenciais que são esses parentes. Que sejam na maioria das vezes o pai e/ou a mãe, os avós ou outros cuidadores e responsáveis. Não importa quem educa !
O que se tem de certo e muito robusto é que esses primeiros responsáveis, criadores e tutores inscreverão, gravarão, plasmarão e determinarão se essa cria, essa criança trilhará o caminho do bem, do mais ou menos bem, ou do mal. Cumpridas todas essas diretrizes na educação de uma criança até a idade adulto, se ela se desviar de uma conduta honesta e cidadã, provavelmente essa pessoa tem alguma doença social, comportamental ou psiquiátrica. E as estatísticas e censos são incapazes dessa quantificação por culpa das próprias famílias que omitem ao máximo tais casos  pelo estigma e preconceito que esses transtornos trazem.
Uma outra tese que temos que admitir é que a criança é uma semente em potencial para o bem ou para o mal. Ela se inclinará para um ou outro polo a depender dos estímulos recebidos. Ou seja, do processo educacional iniciado na fase do berço e da chupeta. As escolas e seus métodos pedagógicos terão um papel complementar, sobretudo na imposição de disciplina e limites, no ensino de ética e honestidade.
Quanto à violência e crimes relacionados com bullying. Trata-se de uma forma de discriminação, de preconceito em enxergar no outro algum detalhe ou diferença anatômica, um comportamento ou gestual discordante com o “padrão”. Vale ressaltar que muitas vezes tal reação de rejeição do outro vem de um comportamento familiar. Nenhuma criança ou adolescente traz esse comportamento inato, gravado nos seus circuitos cerebrais. Ele é um comportamento aprendido de casa. Ninguém nasce com a vocação da rejeição.
Quanto aos games e jogos com teor de violência; como exemplo o ainda praticado jogo da baleia. Trata-se da maior insanidade e demente permissão a um adolescente ou jovem. Uma bestialidade e insensatez no rosário de besteiras que oferece o mundo dos games e jogos eletrônicos.
Que diversão demoníaca é essa onde o jovem é desafiado ao suplício, a automutilação, culminando até ao suicídio? Só mesmo na mente de um criador psicopata e mentecapto poderia se concretizar tal invenção, deveria se possível ser segregado do convívio social porque está a serviço do crime, da violência e deturpação das mentes dos usuários dessa monstruosidade “ lúdica”.
Por fim as questões de violência e crimes tendo como causa as doenças comportamentais  e psiquiátricos. É bem sabido e certo que toda psicopatia traz um enorme estigma social.
A própria depressão e o transtorno de ansiedade já trazem em si uma rejeição, uma omissão, uma subnotificação, por culpa dos familiares de seu portador. São doenças muito prevalentes e que geram um certo preconceito no meio social e profissional do portador.
Agora, imaginemos as doenças psiquiátricas de maior impacto social e emocional e de pior prognóstico. São os diagnósticos por exemplo de uma esquizofrenia, transtorno bipolar, personalidade psicopática. São distúrbios psiquiátricos que as famílias não aceitam nos seus sintomas iniciais. Muitos casos só se tornam conhecidos e tratados após algum episódio de grave agressão física ou assassinato.
Um portador de  esquizofrenia ou de conduta antissocial tem o mesmo potencial pernicioso e de violência que um pedófilo ou estuprador. Será que alguém em sã consciência tem dúvida da mente patológica desses tipos aqui referidos. De igual forma  com aquele que comente feminicídio motivado por um ciúme doentio, como assistimos tanto em nossos dias e noticiados nos jornais, redes sociais e televisão.
A biologia, a psicologia e a psiquiatria não podem mais duvidar dessa triste realidade que, às vezes, é  subestimada e subnotificada pelas famílias e cuidadores.   Agosto/2017