terça-feira, 27 de setembro de 2016

Câncer


CÂNCER - PREVENÇÃO 

A expectativa de vida do homem vem aumentando nas últimas décadas. Esse fato auspicioso, contudo, traz consigo novos problemas sociais e, de quebra, também os de saúde, pois é nessa fase da vida que mais se desenvolvem as doenças crônicas, que comumente exigem tratamentos mais complexos e onerosos. Entre elas destaca-se o câncer, a segunda causa de morte por doença no mundo ocidental. O câncer, em suas várias formas de apresentação, tende a ser traumático do ponto de vista físico, emocional e financeiro não só para o paciente, mas também para sua família. O contraponto para esse cenário é que nos tempos atuais cerca de 60% dos casos diagnosticados podem ser curados e, mais ainda, para aqueles sem chance de cura, não é incomum existirem tratamentos que permitem, no jargão médico, administrar a doença, podendo oferecer anos extras de vida, comumente com boa ou aceitável qualidade de vida.
Contudo, melhor do que bons tratamentos é fazer a prevenção dos tumores, para evitar que eles se desenvolvam , ou, então, ir atrás de diagnósticos precoces, que aumentam de forma expressiva a chance de um tratamento exitoso, com menos sofrimento, gastos e até mesmo sequelas.
Embora no presente nem todos os tipos de câncer possam ser prevenidos ou ter seu diagnóstico feito precocemente, o fato é que os cinco mais frequentes no Brasil (próstata, mama, próstata, pulmão, intestino grosso e colo de útero) podem ser razoavelmente rastreados através de programas sugeridos por entidades médicas, embora ainda haja discordâncias e controvérsias. Existem dois tipos de prevenção, a denominada primária, que tem a ver essencialmente com hábitos e estilo de vida, e a secundária, definida de acordo com o órgão e com riscos individuais (inclui idade) e familiares. Na tabelinha abaixo estão resumidas as condutas de prevenção e diagnóstico precoce mais aceitas pelos especialistas.
Pulmão
Prevenção primária – não fumar
Diagnóstico precoce – tomografias de tórax de baixa dose, anuais, entre os 55 e os 74 anos de idade para quem fuma em média um maço de cigarros/dia (conduta ainda controversa)
Mama
Prevenção primária – dieta rica em fibras vegetais e pobre em gorduras animais, evitar sobrepeso, exercitar-se (podem ter efeito protetor)
Diagnóstico precoce – mamografia anual após os 40 anos de idade; se houver fatores de risco associado (história familiar ou mutação genética reconhecida), iniciar os exames ao redor dos 30 anos, ampliando os tipos de exame em função de cada caso
Próstata
Prevenção primária – dieta rica em fibras vegetais e pobre em gorduras animais, evitar sobrepeso, exercitar-se (podem ter efeito protetor)
Diagnóstico precoce – toque retal e PSA anuais após os 50 anos de idade; se houver fatores de risco associado (história familiar), iniciar os controles aos 40 anos de idade
Intestino grosso (cólon e reto)
Prevenção primária – dieta rica em fibras vegetais e pobre em gorduras animais, evitar sobrepeso, exercitar-se (podem ter efeito protetor)
Prevenção e diagnóstico precoce – colonoscopias a partir dos 50 anos de idade; se não forem encontrados pólipos adenomatosos (lesões pré-cancerosas), repetir a cada cinco ou dez anos; se forem encontrados pólipos, definir intervalos de acordo com os achados; em grupos de maior risco (história individual ou familiar ou mutação genética conhecida), iniciar a colonoscopia entre 35-40 anos de idade, a intervalos adaptados a cada situação clínica
Colo de útero
Prevenção primária – sexo seguro e vacina para HPV logo antes ou no início da vida sexual
Prevenção e diagnóstico precoce – exame de Papanicolau a cada dois anos após o início da vida sexual
Apesar do impacto positivo de programas de prevenção e detecção precoce do câncer, existem três barreiras principais a se considerar. A primeira é que os programas de prevenção ainda amadurecem e serão necessários mais anos para que possam ser universalmente referendados. A segunda é a motivação para um indivíduo se submeter a exames periódicos e a mudar hábitos de vida. A velha frase “um dia a gente morre mesmo” continua sendo usada por muitos para se esquivarem de atitudes proativas em relação a sua própria saúde. A terceira, não menos importante, é que existem reais limitações de acesso aos exames periódicos por restrições financeiras individuais ou impostas por planos de saúde ou, então, pela incapacidade dos sistemas de saúde, em especial o público, de contar com estruturas que facilitem a realização desses exames.
A realidade que vivemos é a de uma crescente preocupação com a saúde em geral, em especial em populações com melhores níveis de educação e condições socioeconômicas mais favoráveis. Entretanto, é preciso que a conscientização quanto aos riscos chegue a todos e, para tanto, cabe aos governos e ao setor privado incentivar atitudes de prevenção primária e secundária, bem como de diagnóstico precoce para, em última análise, diminuir ou evitar o sofrimento decorrente do câncer e de seu tratamento na população em geral. E se isso por si só não é motivo suficiente, adiciono outro argumento: prevenir diminui gastos. Para um subfinanciado sistema de saúde, esse fator não é coisa pouca!

açúcar

 AÇÚCAR - um vilão da saúde

O Brasil é o 4º País que mais consome açúcar no mundo
 Lá vem ela falar mal do meu alimento preferido, de novo. É verdade. O objetivo deste blog é mostrar um lado da alimentação que a indústria precisa esconder e como “ninguém bate em cachorro morto” o meu foco são sempre os queridinhos do País. A vítima do post de hoje é o açúcar, que na verdade tem sido um dos algozes da saúde dos brasileiros e nos coloca hoje na quarta posição do ranking mundial de consumo deste ingrediente. Observando a rotina dos que estão à nossa volta fica fácil entender porque.

Logo cedo ele aparece em altas doses no café ou no suco dos adultos e no suco ou no leite com achocolatado dos pequenos. Também está nos cereais, nos biscoitos, nas geleias e nos bolos prontos. A ideia que nos passam é que ele precisa estar na nossa mesa neste momento para nos dar “energia para encarar o dia”. Poucos sabem que ele faz o contrário. Se em um primeiro momento é rapidamente absorvido e dá um pico de glicose no sangue, isso leva o organismo a liberar uma alta quantidade de insulina para utilizar esse açúcar na célula, levando a uma queda desse açúcar no sangue, ou seja, pode causar uma hipoglicemia reativa, o que, por sua vez, pode gerar sintomas como: falta de concentração, agitação, irritabilidade, sonolência, tontura, enjoo e até dor de cabeça.

Na hora do almoço os doces, cada vez mais atraentes, ficam estrategicamente posicionados na frente de todos os outros pratos na maioria dos restaurantes por quilo do País, onde almoçam boa parte dos brasileiros. É claro que eles estão ali porque os frequentadores chegam famintos e mal conseguem raciocinar sobre o que vão escolher. A oferta de açúcar é irresistível para um organismo faminto, cujo cérebro necessita de fontes de energia de rápida absorção, e o açúcar e os carboidratos são fontes delas. Então é bom pegar sempre uma sobremesa. Se você é daqueles que “precisa” de um docinho depois do almoço, cuidado, isso pode demonstrar resistência à insulina, que com o passar do tempo pode colaborar com o aumento de peso e, para aqueles que não têm esta tendência, também é prejudicial porque vai tirar sua energia e sua concentração para o trabalho nas horas seguintes.

Chega a noite, voltamos pra casa e queremos relaxar, compensar o estresse, as irritações e as frustrações do dia ou queremos comemorar algum fato positivo e, quem estará lá nos dois casos? Ele, o açúcar, que aparece em forma de sorvete, chocolate, bolo, bolacha recheada e todas as outras maneiras que a sua criatividade encontrar. Porém, consumir açúcar antes de dormir é extremamente prejudicial para o sono, pois mais uma vez pode facilitar uma hipoglicemia, gerando sintomas como sono agitado, pesadelo, suor noturno e até mesmo fazer com que você acorde de madrugada para um lanchinho.  

E esta relação tão íntima com ele parece que já nasce com a gente. O que contraria a orientação do Guia de Pediatria de só se oferecer açúcar depois do primeiro ano de vida. Hoje os bebês são apresentados à substância bem mais cedo do que isso em casa, nas creches ou nas escolinhas. De acordo com uma pesquisa recente do Ministério da Saúde, por exemplo, 72% dos bebês com menos de 1 ano já consomem bolacha recheada com frequência. E a moda do Smash the Cake já ouviu falar? A sessão de fotos gira em torno do contato entre os pequenos e um bolo inteiro que eles vão comendo e se lambuzando. Que chatice, que exagero, quanto radicalismo, quer dizer que nunca mais posso comer doce? Qual o problema de amenizar o peso da rotina com eles? O problema, como sempre, está no excesso e na alta frequência desse consumo, que como eu já exemplifiquei, pode trazer problemas para a sua saúde física, mental e emocional.

Que tal então tentar fazer pequenas mudanças para poupar o organismo sem abrir mão do prazer? A saída não é substituí-los pelas versões ‘diets’, até porque muitos adoçantes têm substâncias como o aspartame e a sacarina sódica, cujos efeitos podem ser até piores do que os do açúcar. O ideal é tentar diminuir a quantidade utilizada no café, faça isso aos poucos, tentar cortar as sobremesas dos almoços diários, seu bolso vai agradecer e você se sentirá mais disposto para voltar às atividades, acredite. Foque nas frutas, elas podem ganhar uma pitada de canela por exemplo e com um pouquinho de cozimento já viram ótimas opções de doces, funciona com a banana, com o abacaxi, com a maçã… a manga batida vira um creme doce que não precisa de açúcar nenhum. A alegria da noite estará garantida. Para o café da manhã existem opções de sucos prontos com níveis bem mais baixos de açúcar, cereais sem açúcar, até os achocolatados podem dar lugar à marcas de chocolate em pó com 50% de cacau, o mel também pode entrar em várias preparações. Se sobrar um tempinho, tente preparar seu próprios bolos, tudo que é feito em casa é mais indicado do que o que é comprado pronto. Mas nada de rechear e cobrir com brigadeiro ou leite condensado né?

As mudanças podem ser graduais até que o paladar seja reeducado. Quem está acostumado com altas doses de açúcar, de realçadores de sabor, de corantes e outros tipos de aditivos químicos (substâncias presentes nos alimentos ultraprocessados) fica com o paladar anestesiado e sente dificuldade de aceitar sabores mais delicados como o das frutas. Posso fazer uma comparação com as pimentas: quem costuma comer bastante pimenta sabe do que estou falando, no começo só aguentamos pequenas quantidades, mas com o passar do tempo vamos adquirindo resistência e precisamos de doses cada vez mais altas para sentir o seu gosto. Mas quando se trata do açúcar, uma hora esse ciclo terá que ser quebrado e os benefícios desta redução compensam, você certamente se sentirá mais disposto, mais calmo, poderá emagrecer ou até reduzir o risco de desenvolver alguma doença crônica não transmissível, como o diabetes tipo 2.

Mais uma vez é importante ficar atento aos rótulos dos produtos industrializados, você pode estar consumindo mais açúcar do que imagina, já que ele está até na composição de boa parte destes itens, mesmo nos alimentos salgados, como molho de tomate, biscoitos e pães. E, de acordo com o IDEC, o Instituto de Defesa do Consumidor, também pode aparecer nos rótulos com diferentes nomes, como: açúcar invertido, glucose de milho, xarope de malte, sacarose, maltose e xarope de milho, entre muitos outros.

Você pode se perguntar: se o açúcar faz tão mal à saúde por que não se fala sobre isso? Não se fala sobre isso porque não é rentável nem para a indústria alimentícia, nem para a indústria farmacêutica. Prova disso foi uma descoberta revelada na semana passada pelo jornal Jama Internal Medicine sobre um acordo feito em 1964 entre um grupo conhecido como Associação do Açúcar e alguns pesquisadores de Harvard,  que receberam dinheiro para esconder pesquisas que demonstravam a relação entre o consumo de açúcar e problemas de saúde como diabetes e doenças cardíacas. O acordo parece ter funcionado bem durante muitas décadas. Mas hoje já há diversas publicações comprovando os efeitos nocivos da substância para nossa saúde. Portanto há pesquisas contrárias e favoráveis a ele, basta saber em que é mais gostoso e confortável acreditar

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

REMÉDIOS...

REMÉDIO ALIVIA , CURA E MATA. CUIDADO.
  


Tem aquele adágio popular que diz “ de médico e louco todo mundo tem um pouco. Este ditado se aplica muito bem aqui no Brasil, onde temos leis muito frouxas e fiscalização muito falha e tolerante quando se trata de saúde e propaganda de medicamentos e outros insumos sanitários.
Vamos ilustrar esta triste e vergonhosa realidade com as infindáveis e burlescas  propagandas de remédios. O primeiro grande erro da legislação é a permissão da própria mensagem apelativa ao livre consumo de qualquer produto farmacêutico. O segundo erro e escárnio ao consumidor são os teores dos apelos. O que dizem as vinhetas, os anúncios? “ Para tal sintoma ou doença tome tal remédio, se os sintomas persistirem ou surgir efeitos colaterais procure o medico”.
Analisem então caros leitores (as) se tais apelos e propagandas não representam um deboche e ofensa às pessoas e à nossa inteligência. Ou seja, a mensagem significa: primeiro você se automedica, se intoxica e quando não obter alívio ou cura, aí sim, você deve fazer o correto que é procurar um médico.
O expediente da automedicação se tornou muito “cultural” em nosso país justamente pela leniência das leis, pela fiscalização inexistente. Nossos governos sempre foram omissos e culpados por essa prática disseminada que as pessoas têm de,  a qualquer febre, dor ou infecção, irem a uma farmácia da esquina, comprar e tomar a seu bel prazer um antipirético, um analgésico ou antibiótico. No Brasil há outros fatores que contribuem para o livre consumo de medicamentos. Falo por exemplo de comércio clandestino, da pirataria. Não importa que cor tenha a tarja do remédio. Pela internet ou camelódromos se acha de Viagra, morfina até propofol ( que vitimou o cantor Michel Jackson). O famoso anestésico venoso, ou como o pop star o  chamava “leitinho branco” e que injetado na veia levava-o a um sono profundo e aliviava as suas dores do espírito, da alma e do corpo. Um dia houve exagero na dose, ele entrou em coma, depressão respiratória e morreu.
Diante da fragilidade das leis e ineficácia de órgãos reguladores sérios, somos também vítimas do lobby das indústrias farmacêuticas. Muitos medicamentos proibidos nos EUA e Europa são permitidos em nosso país. Um exemplo são alguns produtos para tratamento de obesidade. Países do atraso como Venezuela, Bolívia e Brasil, são campos de experimentos e consumo de muitos medicamentos , que não deveriam nunca chegar ao consumidor. Não pensem que os médicos também não tem culpas. Eles são aliciados pelas propagandas das indústrias. São aliciados e convencidos pelo marketing dos fabricantes.
 E qual a vantagem para o governo? Os impostos pagos pelos fabricantes. Enfim são questões de ordem cultural e política que tornam a nossa  sociedade uma das campeãs em consumo de insumos farmacêuticos e outros produtos de saúde. Chega a ser cômico e hilário o anúncio de drogas, utensílios e aparelhos para os mais variados sintomas. Até águas , cadeiras e colchões magnetizados se vendem como uma panaceia, eles melhoram tudo, até depressão, impotência e evita câncer.  Lembram da pílula do câncer ?  Foi proibida .
Contra tais hábitos tão difundidos das pessoas e exploração das indústrias de medicamentos eu deixaria algumas advertências e conselhos. Qualquer remédio por mais inócuo que possa parecer traz riscos potenciais de grave toxicidade e morte. Há um conselho em farmacologia que eu costumo seguir quando estou frente a um produto novo, chamado de ponta e top de linha para esta ou aquela enfermidade. Diz esse princípio: “ Como médico , não seja o primeiro a receitar uma novidade , nem o último a descartar o velho”( o medicamento já conhecido).
Como ilustração destas ameaças do uso abusivo da automedicação  eu ficaria com medicamentos de todos conhecidos. Já presenciei morte por uso de aspirina. Usada em algumas viroses pode levar a uma necrose hepática fulminante. Já vi gente morrer por necrose de medula pelo uso de dipirona. Já assisti  choque anafilático e morte súbita por uso de uma simples e inofensiva penicilina. Remédio alivia, cura e mata.
A diferença entre remédio e veneno está na dose, em quem se usa e por quem foi receitado. Amigos , vizinhos, curandeiros e farmacêuticos não são os profissionais de saúde  indicados para prescrever medicamentos. Isto é um ato circunscrito ao médico. E cuidados com farmacêuticos e médicos sem uma formação de qualidade. Nada tenho contra os cubanos. O culpado é o regime onde eles passam por uma constante assepsia cerebral, inclusive no tocante a essa tão importante profissão que é o cuidado e vida de pessoas doentes. 
         
João Joaquim médico- cronista DM  joaomedicina.ufg@gmail.com -  (62) 3229-4447 – 9.8224- 8810



quarta-feira, 21 de setembro de 2016

OS HIPOs da Vida

HIPÓCRATES , OS HIPOCONDRÍACOS E OS HIPÓCRITAS
João Joaquim  


Uma questão de grande relevância no mundo e na relação das pessoas com as coisas é o correto emprego das palavras. Só para rememorar a palavra palavra  vem do grego paróbole, parábola. Fazendo uma tradução livre temos; para, ao lado, paralelo; ballein, atirar, jogar ou seja: palavra  seria um sentido próximo, paralelo, por comparação.
 É tão interessante o ofício de nomear as coisas que tudo começou lá no Genesis 1-5- E Deus chamou à luz dia; e às trevas noite. No Genesis 1-10: E chamou Deus à porção seca terra e às águas mares.
Ainda no concernente ao poder das palavras temos no livro de São João capítulo 1-1 No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. No 1- versículo 3- Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi se fez.
Ao criar o homem (Adão) e deste a mulher (Eva) Deus permite que o homem nomeasse todas as coisas e seres vivos sob o seu domínio. E esse é um mister, um atributo dos humanos em todos os tempos. Nessa função ninguém é tão interessado como as crianças. Basta lembrar das repetitivas perguntas próprias da infância: Por que? como? O que é isso? Essa sedenta curiosidade deveria ser uma permanente energia no ser humano. Muitas vezes nos conformamos em ouvir e  ver as coisas sem nos preocuparmos com a causa e o por que de sua existência. Esse é, aliás,  o propósito maior da Filosofia que procura perscrutar além do óbvio.  
A propósito da curiosidade infantil e juvenil eu conto uma historinha que me ocorreu. Um adolescente de 15 anos, de aguçada curiosidade, ao avistar-se comigo em minha atividade de Esculápio inquiriu-me sobre o parentesco das palavras Hipócrates, hipocondria e hipocrisia. 0lha que não é para menos aos olhos dos que têm interesse na origem das coisas e por que de cada condição, estado ou objeto (coisa) ter tal nome. Qual seria então o nexo existente entre essas três palavras que tem em comum, digamos, essa raiz hipo?  Elas têm algo em comum ou não? Veremos.
Como de muitos sabido Hipócrates foi um filósofo e médico grego (460-377 a.C). De registro na historia é considerado o precursor da medicina, sendo por isso alcunhado de o pai da medicina. Sua grande contribuição se fez sobretudo no campo da Bioética. Sua influência se tornou tão marcante que o juramento profissional de todo iniciante na arte de curar é o que ele próprio, Hipócrates, fez naqueles idos séculos antes de Cristo. Além de seus insignes postulados nas relações éticas médico/paciente ele deixou vários outras escritos sobre patologia humana, de muita importância até os dias de hoje. Ele é considerado o primeiro filósofo clínico; hoje de pouca visibilidade e subvalorizada, mas que existe em alguns centros como especialidade médica.
A palavra hipocondria vem  de hipo=sub ou abaixo e chondro= cartilagem (das costelas por exemplo). Trata-se de um estado depressivo obsessivo, onde, o indivíduo supõe ser portador de alguma doença que escapa ao olhar e exame clínico de muitos médicos consultados. É comum tais doentes perambular por vários profissionais e especialidades na ilusão de serem portadores de alguma doença que tais especialistas e exames não são  capazes de diagnosticar.
E por que da palavra hipocondria para nomear tal estado psicopatológico? Justamente porque o fígado se aloja num espaço chamado hipocôndrio. Um recesso bem abaixo das cartilagens (condrios) das costelas direitas. Quanta injustiça com o fígado, que é o órgão que menos adoece em nosso corpo. A maioria das doenças hepáticas têm origem no alcoolismo e nas hepatites virais. Assim, esse órgão, como bem protegido e de mais difícil acesso ao exame físico se torna o ultimo reduto do hipocondríaco a achar que sua doença está ali oculta da avaliação médico e dos exames de imagem. Tal sugestão me traz à lembrança o personagem Simão Bacamarte do conto o Alienista de Machado de Assis. Talvez uma casa de orates fosse uma boa terapia para tais pacientes. 
A palavra hiprocrisia, vem do grego  hypocrités. Eram os atores dos antigos teatros gregos. Como do senso comum, o ator diz, expressa alguma coisa ou alguém que ele próprio (o ator) não é, embora possa existir alguma coincidência. Isto seria o cúmulo na arte teatral, o sujeito representar algo de si próprio. Hiprocrisia é isto, é a dissimulação ou fingimento de uma qualidade, um sentimento, uma ética que o sujeito não tem ou é incapaz de cumprir. Seria aquele conselho mais do que sincero: faça o que digo e não faça o que eu faço. Segundo estatísticas, a cidade de maior incidência de hipócritas é Brasília. Nesse ranking o Brasil desbanca todos os outros países. Primeiríssimo  lugar.
Enfim com esta breve digressão foi possível falar da importância das palavras. O que se pode concluir é que Hipócrates, não foi hipócrita. Mas, ele já naqueles tempos os assistira muito, tendo em vista que o hipocondríaco não passa de um hipócrita  . E certamente assistira a algumas de suas encenações. Não podendo deixar de considerar que o grande filósofo e precursor da medicina descreveu e muito bem essa afecção milenar, a hipocondria, que até os dias de hoje é  motivo de muitas consultas e  exames de imagem sem uma base orgânica que o justifique