O MÉDICO COMO BOM
OU MAU EDUCADOR EM SAÚDE
João Joaquim
É de senso individual e coletivo que tudo aquilo que fazemos,
que praticamos vem de nossa educação. O que é educação? É todo conhecimento que
adquirimos com outrem. Isto é uma questão unânime, pacificada e ponto final.
Alguém poderia lembrar do autodidatismo, do expediente de se aprender por si
só. Mas, aqui entra aquele argumento de que uma primeira pessoa e antecessor
registrou aquele conhecimento, aquele princípio ou regra etc.
Uma outra mente poderia ainda contra-argumentar: e quando se
trata de um descoberta ou grande invenção? Vamos tomar o caso de alguns
teoremas, leis da física, lei da relatividade de Einstein? A última explicação
seria: todas as leis da matemática, da física ou da química não foram criadas
pelo engenho humano. Todas são preexistentes em relação à inteligência humana.
Todas as leis e relações do universo fazem parte de sua dinâmica, de sua
harmonia, de uma inteligência sobrenatural, que para os que creem, nos quais eu
me incluo, se chama Deus. Nós humanos, de forma interativa, e em cooperação uns
com os outros (mestres, aprendizes e iniciados cientistas) é que chegamos a
essas inter-relações das coisas, e dos seres químicos e físicos entre si, de
todas as coisas existentes, do planeta terra e do cosmo. Ninguém inventou o
princípio da inércia, a velocidade da luz, a lei da gravidade. Elas sempre
existiram . São imanentes , eternas e imodificáveis.
Deixo essa ideia inicial assim expressa e não pretendo
desta maneira me referir aos regulamentos do cosmo, da terra, das águas,
da flora ou da fauna. Seria dissertar sobre coisas de que eu ignoro; e
Sócrates já advertia: “ ajuizado serás não supondo que que sabes o que
ignoras”.
Por estranho que pareça quero tratar de outra forma de
educação de nossa humanidade, de nossa sociedade e das pessoas; deu-me em
mente de versar e reversar sobre educação em saúde.
Tudo aquilo que fazemos e praticamos em saúde (pessoas comuns
e profissionais ) é feito e praticado com que tipo de educação? Quais são as
influências recebidas de toda prática, de todas as atitudes das pessoas nas
questões de saúde? Para dar mais foro de clareza em matéria tão importante na
vida das pessoas, vamos tomar o exemplo da automedicação. De onde vem tais
ensinamentos? Vamos ao que dizem a historiografia, estudos e pesquisas sobre o
tema.
Toda educação e práticas no tocante à saúde advêm de nossos
antepassados. Isto se dá pelas crenças, pelos mitos, pelas experiências, pelos
resultados empíricos repassados de geração a geração. Outro fator determinante
na educação em saúde de nossa sociedade se refere à influência dos
estágios ainda precários das ciências e da medicina até meados do século
XIX, inicio do XX. Nesse período pré-científico( comparado ao que temos hoje em
ciências médicas ) predominavam então o charlatanismo, o curandeirismo e a
crença das pessoas em inúmeras afirmações e promessas de eficácia e cura de um
sem-número de insumos e práticas terapêuticas. Práticas e terapias essas que
persistem até os dias de hoje. Charlatões, videntes, falsos profetas,
sacerdotes e curandeiros continuam a fazer sucesso até hoje. Em muitos rincões
do Brasil e do mundo ainda se usam muitos linimentos, emplastros, unguentos,
sanguessugas, benzeções , descarregos etc.
Por fim, há um agente, um profissional que tem papel decisivo
na educação sanitária de nossa sociedade e das pessoas. Referimos então ao
próprio médico. Não há nenhuma dúvida ou dissenso de que o médico é o grande
educador em saúde. Muito do que as pessoas praticam de errado ou de certo com
sua própria saúde resulta de uma informação distorcida, equivocada e antiética
do próprio médico. E aqui entra o fator pessoal e o fator institucional da
formação profissional. No âmbito pessoal temos desde o indivíduo que pratica as
profissões de forma ilícita( falsidade ideológica ) até aqueles que
deliberadamente, por questão de caráter , são maus profissionais. Grande parte
dos charlatões têm diploma, e esses são os mais perigosos porque têm a chancela
de alguma faculdade. Tal prática se dá desde o vendedor de remédio em
alguma farmácia, à pirataria de muitas terapias fajutas , nas esquinas das
cidades e agora pela Internet. Procure qualquer remédio nas redes sociais,
existem para todo gosto, desde os para impotência sexual até pílula do câncer .
O papel de profissionais de saúde . Para tanto basta pontuar
algumas situações nas quais o médico se torna o responsável. Nas questões de
diagnóstico. Quantas pessoas não têm uma percepção e informação errada ou
falseada de causa deste e outros sintomas ou doença? Nunca foi o paciente que
se autodiagnosticou, o médico é que lhe incutiu tal rótulo de doença. Por que a
prática de muitos clientes saudáveis ou com sintomas vagos e banais
em submeter a tantos exames? Culpa dos médicos que os solicitam sem
critérios na sua prescrição .
Muitos procedimentos são feitos sem os itens
clínicos de uma boa consulta e exame físico meticuloso. O bom médico é
aquele que ouve bem, vê bem, e toca o paciente. Desse expediente surgem
os diagnósticos mais acertados. Todo médico antes de colocar o
estetoscópio no doente deveria praticar a chama escutatória ( ouvir as queixas
do paciente). Depois, sim, viriam as perguntas, o exame físico e por fim algum
exame complementar. O nome já é bastante sugestivo, complementar ao ato da
consulta.
Hoje, existe uma tendência inversa. O cliente sai da
consultório com uma listagem de exames. Fazem-se desde dosagens de arsênico, de
sódio, de potássio, de inúmeros elementos que o próprio médico desconhece qual
função no organismo humano . Além dos exames de imagens tipo doppleres ,
ultrassons, tomografias, até impedanciometria corporal.
São baterias de exames, que às vezes resultam todos
normais. Muitas vezes faltou ouvir melhor e tocar o paciente. Nas questões
psicossomáticas por exemplo, quantas queixas se podem curar com uma simples e
boa relação médico-paciente! As tão populares papoterapia, escutoterapia,
orientoterapia. Muitos médicos ainda têm uma certa aura da
infalibilidade( lembra o papa de antigamente), de achar um deus, um sabe-tudo .
Sejam humildes, e entendam suas limitações. Nada feio, nada desairoso ou
desqualificante. Todo conhecimento tem limite. Para isso têm aqueles que sabem
mais e podem nos socorrer. Qual tal ?
Por último, a tão difundida automedicação, desde analgésicos,
antibióticos aos já tão populares calmantes e antidepressivos. Como as pessoas
praticam essas automedicações? Obvio, com as receitas controladas feitas pelos
médicos “bonzinhos e amigos” dos usuários. Também pela Internet, através dos
charlatões, e tantas farmácias de cada esquina. O que existe hoje de
pessoas usuárias de um rivotril, de lexotan, de paroxetina, de fluoxetina, de
citalopran; virou paronoia e uma rotina.
Ou seja, quem deveria dar a melhor educação em saúde, se
torna o pior educador para as pessoas, o próprio médico, que ironia. Quão
triste! julho/2016.