segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

O QUE MOVE

 Os sentimentos dos cuidadores


De repente vêm surgindo ramos de estudos sobre alguns sentimentos humanos. E muitos desses ensaios, pesquisas sociais, antropológicas e psicológicas, trazem como gatilho a crise humanitária provocada pela pandemia da covid 19, iniciada lá em dezembro de 2019. Claramente os sentimentos de solidariedade, de fraternidade, de amor pelo próximo e, mais seletivamente, do sentimento de amor filial ou parental sempre foi estudado e compreendido. Todavia, a aguda crise sanitária da covid 19, de sofrimento, de invalidezes, e mortes realçaram esses debates; mais especificamente voltados à natureza, aos mecanismos íntimos, genéticos do cuidado.

Trazidos então o tema à baila, torna-se oportuno uma breve resenha sobre as interpretações, a análise dos cientistas sociais e de psicólogos e psiquiatras sobre tão sensível e instigante questão, a do cuidado do outro. O porquê de muitas pessoas se dedicarem tão amorosamente a alguém, muitas vezes sem vínculo parental com esse indivíduo carente, frágil, doente e incapaz para as funções mais elementares da vida como a higiene pessoal, o uso correto e seguro de medicações prescritas, as refeições e hidratação, nos momentos de fome e sede? Eis a natureza e variações desses cuidados. Uns cuidam tão bem, já outros.....

Um fator envolvido nos sentimentos de generosidade e no expediente do cuidado do outro é o genético. Nessa questão há como que um consenso de sua participação, como cristalinamente observado nas características biológicas, no fenótipo e anatômicas da pessoa. A semelhança e identidade entre um filho e os pais são muito grandes. Assim também se comporta a genética no referente aos sentimentos e no caráter do filho. Muitos desses traços são compartilhados geneticamente (genoma em ação). Filho cópia do pai e mae.

Entretanto, em que pese os genes contribuírem para o bem e para o mal em muitas características biológicas e somáticas, e mesmo para a conduta e caráter do sujeito, quando se estuda os sentimentos da generosidade e do cuidado, pesam muito mais e de forma determinista (determinismo inevitável como referem os estudos) o padrão educacional e o legado social da família ou casa  onde o sujeito foi criado e formado.

E este é um ponto marcante: a um filho (a) não se dá apenas a criação, a engorda, a constituição física biológica de saúde corporal, de beleza e estética. Adicional e acima de todo esse investimento deve-se dar uma educação ética, social, humanitária e moral. É a construção da pessoa, desde criança como indivíduo cidadão (partícipe social e fraternal) com expedientes fundados no exemplo, no ensino e prática de ética e civilidade. A formação escolar será um complemento na formação técnica, cientifica e profissional produtiva, cooperativa.

Em breves termos, há como certo então que os sentimentos de umas pessoas, em especial os parentais, filhos e filhas, os sentimentos delas dispensados e dedicados ao outro; em especial a um pai ou mãe incapaz, debilitado e frágil; esses sentimentos sinceros, puros e espontâneos não são tanto inatos e genéticos. Eles resultam de como se deu a relação com o pai e a mãe, na sua criação, no seu modelo educacional.

Como indicados nos estudos próprios, imaginemos aquele filho (a) que conviveu com um dos pais, ou os dois pais, com o estilo de vida negligente, irresponsável, descuidado do filho, que não teve um papel de bom educador, amoroso, protetor e pedagógico. Imagine ainda um contexto mais gravoso, do pai e/ou mãe, na condição de um adicto de substâncias ilícitas, castigos físicos e psicológicos aos filhos, de assédio moral continuado! Tenebroso ambiente a imaginar. O que esperar de um filho ou filha, com criação e educação nessa atmosfera?

As Neurociências e a Psicologia Social respondem: essa criança, adolescente e futuro adulto, se formará com um padrão de relações com quem quer que seja, de desamor, de negligencia, de falto em altruísmo e generosidade. Não é que esse filho ou filha, se comportará negligente ou desamoroso por vingança. Ele assim, comportará por uma introjeção e formação ética e moral deformada, desumana e débil em empatia pelo outro, independentemente do laço parental. Se for parente, ainda mais reprovável a falta de amor e cuidado de quem deveria cuidar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário