AS BACANAIS E AS DIONISÍACAS DO
COMER E BEBER PELO PRAZER
João Joaquim
Dentre as muitas imbecilidades e sandices a que assistimos na intitulada
era moderna tem-se o hábito alimentar das pessoas. A alimentação ,
conforme define o próprio verbete
deveria ser uma conduta nutritiva e promotora de saúde se transformou em um
fator de risco para muitas doenças, como as cardiovasculares, metabólicas,
endócrinas, afecções ligadas ao colesterol e a tão disfuncional, deformante e
discriminatória obesidade.
O comportamento alimentar mórbido tem causas variáveis. Entre esses
podem-se destacar a educação familiar das crianças e as propagandas impositivas
(persuasivas, aliciantes) de produtos alimentares, muitos de péssimo valor
nutricional.
Tem-se como de grande significado a correta educação alimentar infantil;
e tal prática deve se dar desde o nascimento. A primeira grande orientação que
se faz às mães é a aleitamento materno exclusivo até os 06 meses de idade.
Outro erro a se evitar é nunca oferecer certos sabores, condimentos e alimentos
exóticos à criança até os 5 anos de
idade. Como exemplos açúcares, chocolates, frituras e guloseimas. Tal prática
condiciona o sentido gustativo da criança a preferir tais alimentos aos mais
naturais e saudáveis.
E lamentavelmente são práticas recorrentes em nossa sociedade. Os doces,
biscoitos e chocolates se tornaram iscas e lenitivos para as crianças quando
choram e fazem birras. Tais alimentos insalubres e nocivos se tornaram aliados
e calmantes para mães, babás e avós que não têm paciência e não sabem mais
balançar, acalentar , brincar e acalmar os pequenos infantes. E para
tanto não faltam criatividade e marketing das indústrias de alimentos com seus
atrativos e engodos para a criançada. O que vale nesses produtos é o
atiçamento, a provocação do prazer do paladar; assim , os açucares, gorduras e
massas são os preferidos dos pequenos.
Partindo então desta premissa: uma criança que recebe uma dieta saudável
tem muita chance de se tornar um adulto de hábitos alimentares saudáveis.
Condutas tais que se repicará na prole seguinte. O reverso dessa assertiva é
também verdadeiro. Uma criança, um filho cujos pais ou cuidadores são
desregrados e imoderados na alimentação tem tudo para se tornar um adulto “mal
educado” no trato alimentar. Em outros termos, essa criança está sujeita não
somente à obesidade bem assim a todo o espectro patológica que carreia o
excesso de peso, tais como diabetes, colesterol alto, hipertensão, distúrbios
glandulares, desregulação hormonal, etc. Hoje, se sabe que até a puberdade e a
maturação sexual podem ser alteradas com uma dieta desbalanceada e o excesso de
peso na infância.
Muitas têm sido as discussões (teses) do por que do hábito
alimentar patológico da sociedade moderna (pós industrial da era digital).
Dentre tantas ideias temos que a “alimentação” passou a ser um marcador de
prazer, um status social, um subterfúgio para os transtornos de ansiedade, um
entretenimento e diversão etc.
É natural que assim como nos deleitamos e nos sentimos bem na audição de
uma boa música (sentido da audição) ou na contemplação de uma linda paisagem
(sentido da visão), também sintamos prazer e gozo na degustação de um saboroso
alimento e bebida. A questão que emerge aqui é o comedimento, a disciplina e o
equilíbrio entre a função nutricional e o prazer do paladar na atitude
alimentar. Essa harmonia condicionada pelo prazer do alimento com o efeito nutricional
pode ser buscado com disciplina e a qualidade do que se come.
Este é o segredo fundamental, no gesto de se alimentar, nutrir; e também
ter um momento de deleite e de prazer. Ter prazer, alegria e felicidade são
objetivos e fins em si mesmos buscados pelo ser humano. Todos temos esse
sagrado direito.
O comportamento alimentar patológico se verifica de duas maneiras.
Primeira, quando se tem na ingestão dos alimentos uma fonte única de prazer,
“felicidade”, diversão etc.
Tal prática tem sido uma das marcas do homem moderno pós-industral. Em
detrimento de outras fontes e meios de entretenimento o indivíduo
rotineiramente tem no ato de comer uma forma de prazer, de festa, de
divertimento, de alegria, às vezes, beirando a um comportamento orgástico e
orgíaco. Uma cultura que lembra as bacanais ou dionisíacas do deus grego
dionísio( das festas , do vinho e da insânia ) , muito praticada pelas pessoas na derrocada do Império Romano. A insanidade
era tamanha que o indivíduo se empanturrava de comida , vomitava ,comia
novamente, e ia se repetindo insanamente.
A segunda forma patológica de se alimentar se dá nos transtornos de
ansiedade e depressão. O hábito de comer repetidamente se torna instintivo e um
subterfúgio (fuga) dos sintomas e sentimentos negativos que afligem a pessoa.
Enfim, de fato é inegável que o hábito de alimentar pode e deve
prevalecer como um momento de confraternização, de comemoração, de alguma
festividade, de compartilhamento e alegria. Mas, não se pode de igual forma se
transformar numa atitude de exclusivo prazer , de diversão , de comer por puro
e simples prazer e deleite. O equilíbrio , como em tudo na vida, deve ser um
gesto de elevada racionalidade e respeito à saúde e bem-estar global. Agosto/2017.
João Joaquim - médico - articulista DM facebook/ joão
joaquim de oliveira www.drjoaojoaquim.blogspot.com -
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