SER FELIZ E
FLEUMÁTICO OU RAIVOSO E BILIOSO
João Joaquim
Quando se fala em humor em nossos
tempos vem logo à nossa memória aquele sentido que tem o termo de se referir à
vocação ou tendência latente em cada um para a alegria, para a graça, para o riso,
enfim àquele momento de relaxamento de ansiedade, enfim estar em
serenidade. Tal predisposição da alma e do espírito se tornou até uma
arte, uma profissão. No Brasil, temos como exemplos um Tom Cavalcante, um Jô
Soares e Chico Anísio (falecido) entre muitos outros humoristas menos
famosos.
Na verdade, trata-se de uma
habilidade nata. O indivíduo já nasce engraçado. Um exemplo muito sabido , em
âmbito mundial, foi Charles Chaplin. Ele em si era o humor em pessoa,
além de grande dramaturgo e exímio ator.
A origem do que hoje entendemos
como humor vem de priscas eras e tinha outro significado. Ainda hoje temos
resquícios do que era estudado pela antiga medicina. Vamos então a questões
pontuais da história. Hipócrates, considerado o pai ou precursor da medicina
propôs a teoria dos quatro humores. Eram eles o sangue, a fleuma, a bílis
amarela e a bílis negra. Outro pensador e médico que defendia a mesma teoria
foi o grego Claudio Galeno, de Pérgamo. Admite-se que a homeopatia criada por
Samuel Hahnemann (1755-1843) foi inspirada na teoria dos quatro humores de
Hipócrates e Galeno.
De fato há mesmo um certo nexo
lógico entre os dois cientistas . Galeno pode ser Considerado o pioneiro
das chamadas formulações magistrais. São aquelas cujos princípios ativos são
variáveis, a depender do paciente e profissional que as indica. Diferente da
chamada fórmula oficinal cujos ingredientes são fixos e tem validade mais
prolongada.
Eu disse que a medicina atual tem
resquícios da medicina hipocrática e galênica. Ao menos em terminologia. Por
exemplo, nos olhos temos dois tipos de humor, o aquoso que preenche a câmara
anterior do globo ocular e o humor vítreo (translúcido como vidro) que preenche
a parte posterior dos olhos antes da retina. São componentes gelatinosos de grande
importância na fisiologia da visão.
Outros pensadores e cientistas
também defenderam a teoria inicial de Hipócrates e Galeno. Um exemplo que a
história registra é a do médico suíço Paracelso (1493-1541). Ele dava muito
realce por exemplo à composição e efeito dos minerais no organismo humano.
Talvez dele é que tenha nascido a ideia da chamada “medicina
ortomolecular”. Prática não reconhecida pelo conselho federal de Medicina.
A tese central da teoria dos
quatro humores de Hipócrates era que a saúde do indivíduo, a chamada homeostase
interna dependeria da perfeita concentração e equilíbrio dos quatro humores:
sangue, fleuma, bílis negra e bílis amarela.
O sentido das ideias de
Hipócrates em sua teoria dos humores remanesce na medicina moderna e na cultura
popular, senão vejamos alguns significados.
Do sangue temos os adjetivos
sanguíneo, sanguinário e pletórico. Traz a conotação de um indivíduo
avermelhado, mau, raivoso e colérico. De fleuma temos, fleumático e
diz-se do indivíduo sereno, pacífico, calmo. De bílis, bilioso, angustiado,
deprimido. O termo humor negro por exemplo traz esse sentido, amargurado,
deprimido, sem nenhuma graça ou encanto.
Por isso e como recomendação de
boa saúde é que eu, o que aqui vos escreve, continuo fleumático,
banhado dos humores da alegria, do riso e de felicidade.
Em termos científicos o que temos hoje? Dos
quatro humores de real temos o sangue e a bílis. A cor da bílis é amarela e
única. Ela pode se tornar negra, no caso de uma inflamação , de uma infecção o
em sangramento de vias biliares. Talvez a fleuma a que se referia Hipócrates
seja a linfa, da circulação linfática, de cor esbranquiçada tirante ao leite.
Mas, ela nada tem a ver com efeito de alegria e bom humor. Se alterada e
represada ela vai causar inchaço, edema e muito desconforto no órgão envolvido.
A bílis fora da circulação hepática ( vias biliares) é uma substância altamente
irritante e passível de graves complicações no abdome. O sangue quando diluído,
com hemoglobina baixa gera a anemia. Se muito concentrado, contrário da
anemia, ele causa um estado pletórico, o indivíduo fica afogueado, vermelho e
tem tendência a trombose. Por isso, nessa condição existe a indicação para
sangria, que consiste em simplesmente o indivíduo doar o sangue num banco
de sangue e tratar a causa dessa chamada poliglobulia, alta concentração de
hemácias
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