FILHOS PETER PAN
Todas as funções cognitivas na formação do indivíduo são complexas e objeto de pesquisas, intensa investigação dos mais diversos e acreditados ramos das Ciências Humanas e da Natureza, incluindo aí a física, a química (ou bioquímica) e a biologia. Porque todas tem a sua contribuição ou espórtula e imbricações na constituição do bicho humano, nas suas relações com outros indivíduos, com o meio que o cerca e com o Planeta.
Em se falando estritamente do homem e suas
conexões sociais com os de sua espécie. Várias sãos as Ciências, vários são os
braços do conhecimento e entendimento que dissertam, que estabelecem e
inauguram os estudos, os ensaios, experimentos, os seguimentos de
casos-controle, no objetivo de deslindar mais e mais os meandros, os circuitos
de cada diferente conduta, índole, personalidade, estilo social e moral de cada
um em suas vivências. Cada pessoa é uma ilha de mistérios, daí a complexidade.
AO
escrever qualquer texto de opinião é sempre construtivo e persuasivo que
busquemos o auxílio e amparo daqueles pensadores, especialistas que nos
antecederam, que passaram grande parte da vida debruçados sobre questões tão
candentes, como a personalidade, as características de conduta que guiam e
governam as pessoas. Como exemplo esse autor: "Seja
qual for o conselho que vai dar, seja breve (Horácio,
65 a.C.-8 a.C.). Assim farei, para não fatigar os leitores e leitoras.
Donald
Winnicot (1896-1971), foi um dos grandes pensadores da formação do sujeito, de
como se dá a constituição psíquica, emocional, de índole e da moral do
indivíduo. Ele foi um respeitável e estudioso psicanalista e cientista do papel
da família, dos tutores e responsáveis pelo encaminhamento, em fazer de uma
criança, de um adolescente e jovem um futuro adulto, com utilidades e
significados onde ele estiver situado – família, local de trabalho, sociedade.
Primeiro para si mesmo, como sujeito hábil, produtivo, independente e com suficiência
para sua própria provisão. Ser autônomo e não comensal, parasita e sevandija,
nem lumbricoide de outros da espécie, de filantropias e Estado. Foco maior da
criação, dizia Winnicot.
Nessa
perspectiva cravou esse psicólogo, especialista em gente de todo gênero e
pedagogo: “A mãe olha para o bebê em seus
braços, e o bebê olha para o rosto de sua mãe e se encontra nele … desde que a
mãe esteja realmente olhando para o ser único, pequeno e indefeso e não
projetando suas próprias expectativas, medos, e planos para a criança. Nesse
caso, a criança não se encontraria no rosto da mãe, mas nas projeções da
própria mãe. Esta criança ficaria sem espelho, e para o resto de sua vida
estaria procurando este espelho em vão.”— Winnicott. Disse tudo e mais alguma
coisa o humanista Winnicott. A pessoa é o corolário pedagógico da família. Que contrariará
esta regra?
Ilan Brenman (1973) é um premiado
escritor e Psicólogo infantil especializado em Educação Infantil; com formação
muito científica e qualificada. Ele valoriza muito a integração dos filhos com
os pais, através da leitura, da contação de história, dos despertar e estímulo
dos pequenos via leitura e contos. Afirma ele enfática e categoricamente, os
pais podem dar 15 celulares aos filhos ao longo da vida. E será que isto, essa
posse constrói um indivíduo? Não. Definitivamente não. Agora, brinque, passeie
com os filhos, faça leituras dos livros indicados para a idade. Serão
lembranças perenes, perpétuas, indeléveis e formadoras do caráter do indivíduo
como um sujeito normal, autônomo, independente, participativo e útil; para si
mesmo, para a família e sociedade.
As histórias, nesse
momento, são mais do que fundamentais. Estamos vivendo um momento de crise em
potência mil. A própria vida já é difícil, uma vida em isolamento em quarentena
é mais ainda. A criança sente angústia e não consegue expressar, então a
literatura vai dar voz a essa angústia e falar: “Sossega aí, vai ser difícil,
tem bruxa no caminho, mas a gente vai conseguir.”. Em todos os momentos de
crise, as histórias e a arte tiveram função fundamental. Quando a peste negra assolou
Florença no Século 14, Giovanni Boccaccio escreveu Decameron, que relata o
isolamento de 10 jovens em um castelo, e para passar o tempo eles contavam
histórias. Como uma ferramenta não só de distração, mas de ancoragem emocional
e fortalecimento.
Histórias são uma
forma de resistir, não tem nada mais resiliente no mundo do que uma história
que passa por anos e anos e continua sendo contada. Essa qualidade passa para a
criança, para a gente.
PORTANTO, ficam aqui
esses conselhos e diretrizes, que as famílias formem pessoas e não autômatos,
indivíduos produtivos, cooperativos e não frágeis e dependentes das famílias,
do Estado, de ONGS, de auxílios de subserviência, de não morrer de fome.
Rechacem os rótulos de “coitadinho de meu filho”, oh! que príncipe, olhe, minha
princesa. Que lindas fotos ela tirou. Não criem fantasias e devaneios para seus
filhos e educandos. Esses títulos e eufemismo, pueris e vulgares, os tornarão
criaturas frágeis, peter pan eternos, dependentes e inúteis cidadãos para a
família e para um mundo que se quer melhor. Não se tornem reféns e serviçais
bobos da corte para seus filhos e parentes exploradores. Ao dizer um não para quem
quer que seja, seja firme e enfático. Não significa não!
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