terça-feira, 29 de novembro de 2016

Qualy de vida

DOS ESTRUPÍCIOS E TRAMBOLHOS  NA VIDA DAS PESSOAS
João Joaquim  

Como profissional da saúde, da vida e da doença, aprendi e exercito sempre os meus sentidos. Há um princípio por exemplo em medicina de definir o bom e observador profissional como  aquele que começa a examinar o paciente quando ele chega à recepção e porta do consultório. São detalhes a ser analisados por exemplo:  a marcha, a postura, mímica, trejeitos etc. Numa consulta médica de padrão-ouro dois itens são determinantes. O primeiro se chama fácies, que nada mais é do que a expressão  facial do doente. Tal termo se aplica de fato a uma pessoa que sofre. Ela pode ser característica de cada doença. Um outro item fundamental se chama ectoscopia, que é uma visão geral de todos as partes anatômicas, de fato visíveis, sem o exame físico manual do paciente e sem nenhum outro instrumento. A partir dessa análise da fácies e da ectoscopia inicia-se o exame físico. Como exemplos dessa ectoscopia, a cor da pele, a oxigenação das mucosas e pele, contrações faciais, tremores de algum membro, manchas, lesões cutâneas indicativas de uma doença sistêmica.
Feitos esses adendos  iniciais, e os fiz com o propósito ilustrativo, devo confessar que como iniciado e ensaísta na arte de cronicar (cronista), gosto muito de observar o mundo, a dinâmica das coisas, o movimento da natureza e o ritmo da sociedade e das pessoas. Devo à Medicina este treinamento diário.
Eu tenho observado, com um certo pesar e ceticismo a desconexão das pessoas com a natureza ao seu redor. Tal fenômeno se deve justamente a conexão com os produtos, objetos e recursos da internet e da indústria digital.  Cada vez mais nos tornamos uma sociedade e pessoas da “irrealidade virtual e da ilusão digital”. 
Todavia, frente a tantos inventos, modismos e tendências que dominam os planos, gostos e desejos das pessoas, há em muitos segmentos profissionais uma preocupação e dedicação com a chamada qualidade de vida. Tal busca de satisfação tem sido lembrada e estimulada em muitos setores sociais, profissionais e empresariais. A própria medicina dá destaque a essa estratégia como um reforço e adjunto terapêutico. Nos conjuntos habitacionais, nas empresas voltadas para atividade esportiva, nas academias de exercícios físicos, fala-se muito nas atitudes e aquisições voltadas para a qualidade de vida. O que seria então, ou melhor como se poderia definir qualidade de vida? Seriam todas as ações, comportamentos e atitudes que de fato tragam melhorias na saúde das pessoas, nas relações sociais e na interação com o meio ambiente e com a  natureza à nossa volta. E aqui já deixo uma advertência: existe muita enganação nesse chamado segmento de qualidade de vida; notadamente a oferta de produtos nutricionais duvidosos e outros insumos sem comprovada eficácia ou beneficio de produzir este efeito ou uma performance física. Fiquem alertas porque tem-se vendido e induzido um rosário de “besteiras” de pura falsidade e ilusão para as pessoas. Nessa lista têm-se até igrejas vendendo passaportes para o céu  em troca de doações e bens pessoais.
E como trazer tais estratégias de mais saúde, de mais bem-estar, de mais alegria e felicidade na vida das pessoas e das famílias?  Tudo que se pode adotar, adquirir como qualidade de vida tem aspectos subjetivos. Nem sempre bens materiais e dinheiro estão associados a qualidade de vida. Tais aspectos vão depender do que fazer com cada pertence ou compromisso na vida diária de cada um. A melhor dica seria buscar não  uma felicidade material, mas sobretudo pessoal, existencial, social e de possuir uma consciência de paz consigo mesmo e com os outros e os poderes públicos constituídos.
Para mais clareza e materializar as noções de qualidade de vida trago à baila o que muitas pessoas adotam e assumem como qualidade negativa ou depreciação em suas vidas. Nesse tom podem-se sublinhar como exemplos os compromissos financeiros que cada um assume para se apossar desse e outro bem material ou status social, a titulo de estar de acordo com os padrões impostos pelas mídias e redes sociais, com os modismos da época.
Nesse pacote entram por exemplo cartão de crédito, “cheque especial”, dívidas, hipoteca de bens , empréstimos particulares, fiadores, etc. O melhor conselho é o de ser feliz do jeito que a pessoa nasceu e com os bens que ela possa adquirir sem se endividar.
Enfim, são os chamados trambolhos ou estrupícios que muitos e muitas agregam em suas rotinas , que lhes trazem apenas qualificativos negativos e ruínas em suas vidas.
Um dos estrupícios encontradiços em nossa sociedade tornou-se a posse dos pets ou animais de estimação (cães na maioria). São muitos os exemplos de pessoas ou casais que mal cuidam da saúde de filhos e de  pais, sequer  cultivam  boas relações sociais ou com o meio ambiente, mas têm em seus apartamentos dois animais; que dão tanta despesa quanto um filho. São vacinas, cuidados veterinários , rações da moda; até vestuário os bichos têm.  Os chamados “ pais ou mães” desses animais levantam pela manhã, limpam e recolhem fezes e urinas dos bichos, dão-lhes as rações ou remédios necessários; chegam as visitas tem-se que prender os animais porque eles são territoriais e sentem os donos da casa. Enfim , fica a pergunta: qual a finalidade de um animal desses em apartamento ? E o pior, tem donos que não cuidam a contento dos animais e de suas “porcariadas”.
Outros estrupícios ou trambolhos vistos são muitas relações conjugais. Sejam como namoro, casamento ou união estável. Ou seja, é uma pessoa arruinando a vida da outra pessoa. São trambolhos humanos que infernizam, quando não chegam ao assassinato do outro. É pura insanidade mental, alguém adotar uma outra pessoa, que se torna um estrupício ,  estrovenga ou tormenta nessas relações.
 E não são poucos os casos dessas relações que desgraçam e martirizam não só a vida da pessoa, mas de uma família. Já bastam por exemplo, muitos parentes  de sangue que a pessoa se vê por questão genética e de generosidade a cuidar e se dedicar à sobrevivência e cuidados alimentares, de higiene e da saúde  desse membro familiar. Não contando aqueles  Balduínos e Valdevinos da vida que se tornam eternos comensais e aditivos , que nem trabalham nem estudam e se tornam eternos dependentes da família  e do Estado.

Em conclusão, são modismos impostos pelas regras do consumo, são  atitudes, permissões e aquisições que, de forma deliberada ou não, entram na rotina das pessoas de forma a anular ou impedir a tão almejada e buscada qualidade saudável e construtiva de vida. Novembro/2016.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário