CONVERSA MOLE SOBRE GANHO PONDERAL
João Joaquim
Eu tenho para mim que nunca dos nuncas se falou tanto em obesidade como se
fala em nossos tempos. Que tempos são esses? Estamos na era do predomínio do
liberalismo ergonômico( produzir muito com pouco esforço), do cômico (de
comedia e comer com diversão ) e da
crise econômica. O capitalismo ,que se manifesta na indústria e no
livre-mercado, aproveitou essa deixa e pôs suas garras nesse filão de clientes.
Comerciar e comer, eis os dois verbos mais conjugados nesses tempos, que se não
rimam, combinam nas propagandas envenenadoras e enganadoras do consumismo.
É o comunismo( não político) na mesma comunhão de-
todos têm o direito ao prazer, ainda que passageiro, do se fartar, do se
empanturrar de porco, de vaca (atolada ou pura), de aves , de frango e
galinha e tudo mais de roldão como
acompanhamentos que vão da batata-palha às massas de trigo consumidas e
apreciadas pela massa humana.
Somadas a todas essas frituras, gorduras
saturadas de carbono e de colesterol, ou
trans, vêm as bebidas em profusão. Elas
que não se destinam a fisiológicas hidratações, mas em libações prazenteiras,
sedantes e excitatórias. São hábitos que, à moda dos antigos romanos, levam
muitas vezes aos reflexos vomitórios, tudo como resultado do liberalismo
gastronômico do comer, comer, comer;
para o fim de ao menos assim ter e obter o máximo de prazer; como já
preconizam os epicuristas de priscas eras.
“Nenhum prazer é, por essência, ruim: é o que
produzimos com ele que, dependendo do tamanho de seu sofrimento, ditará se
realmente valerá ser saciado. O prazer de tomarmos um copo de água quando
estamos com muita sede é tão verdadeiro quanto o sofrimento de ser afogado
pelas águas do mar. As drogas, por exemplo, usadas sem critério médico, podem
produzir um mal muito maior que a euforia ou bem-estar que causam quanto ao
prazer imediato que proporcionam. Em síntese, o prazer e o sofrimento resultam
da relação do corpo com os objetos circundantes” ( princípios da prazer e da
felicidade a qualquer custo, Segundo Epicuro, o filósofo do prazer).
Feito esse breve introdutório, falemos numa outra questão, a causa da
obesidade. Pode parecer temas antagônicos, mas não são. Obesidade e indústria
alimentícia têm muito em comunhão. São irmãs gêmeas que atuam no mesmo polo.
Quando na verdade se fala em ganho de peso vem logo aquele ramerrame ou
nhenhenhém das causas de tão prevalente
e grave pandemia que atinge ricos e pobres. Os ricos porque comem o que há de
mais chique e requintado, os pobres, que custe até algum chilique, mas não ficam sem os farináceos e
requentados. E assim segue a marcha de toda a massa de humanos que porta a tal debatida, rejeitada, mas
redundante obesidade.
Em todos os painéis e simpósios assistidos por mim sobre o tema, têm sido
recorrentes os fatores psíquicos e genéticos ( múltiplos ) para ganho ponderal.
Verdadeiros e contributivos que sejam, esqueçamo-los e tragamos outros de
grande quilate nessa ontológica e filogenética moléstia que tanto martiriza,
estigmatiza, discrimina e mata a humanidade.
Exalto aqui dois dos mais esquecidos contribuintes no superávit
ponderal, a saber, o cultural e o social.
O cultural que salta aos olhos de
qualquer pessoa; basta ver que os grupos
dos obesos trazem a cultura, o hábito de a tudo celebrar com comida, bebidas a
perder de vista, ainda que tudo custe a inadimplência do cartão de crédito(
nome impróprio para essa tarjeta de dívidas). O que mais abunda em todos os
encontros dos obesos é o gozo, o regozijo e regalo do comer e do beber. Tudo,
sejam encontros e desencontros, exige que seja regado a comida farta e bebidas
para festivas libações. Estou alegre e feliz!
então vou comemorar me fartando do que me vier de sobrepeliz. Meu time
perdeu logo hoje, traga aí aquela caninha como aperitivo e que venham aqueles capitosos acepipes e
salgadinhos.
O fator social tem um pouco do cultural. Aqui entra a questão do status
ou importância ou destaque onde se acha
inserido o indivíduo. Funciona, no quesito social ou cultural, a lei do “eu sou o que eu como”. O sujeito se
sente de mais status pelo quanto de melhor e o que mais come. São sinais e
prenúncios de nossos tempos.
Saindo da seriedade e sisudez de tão
relevante tema, o que já não é sem tempo;
o que se devia fazer de mais produtivo e eficaz seria a educação
nutricional na infância. As crianças ainda nas creches e jardim-de-infância (2
anos a 6 anos) deveriam ser educadas com uma alimentação saudável. Nessas
refeições, o lanche matinal e vespertino deveria ser composto de um pãozinho
integral (fibras), um produto lácteo sem açúcar (proteínas e cálcio para os
ossos) e uma fruta (vitaminas e minerais).
O que presenciamos nas escolas e mochilas é justamente o
contrário; doces, açúcares e chocolates. Num expediente de finura e muita
esperteza , diversos ramos da indústria gastronômica põem no mercado os tais
iogurtes, doces, coloridos e achocolatados. De fato saborosos , mas do mais
puro engabelo para que a garotada, uma vez feita a degustação de tais produtos
, nada mais lhe interessa. Pura sedução, que os pais e cuidadores , não têm
como reverter tal apelativa educação .
Crianças cujos pais são magros de genética ou por uma cultura alimentar saudável, serão da
mesma forma adultos saudáveis, porque assim foram educadas. Inclusive na
questão do paladar daquilo que realmente
é antes nutritivo que calórico, antes construtivo, organicamente falando, que
hipercalórico.
É assim que devem prevalecer os fatores cultural e social na formação e
educação de uma sociedade não obesa e saudável. O resto de discussão é o mesmo
reco-reco infindável de falatórios que
nada acrescenta aos frequentadores obesos dos refeitórios e certamente
pacientes e clientes dos endocrinologistas e nutricionistas em seus
frequentados, caros e obesos
consultórios. Basta , falei demais .
Outubro /2016.
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